É possível que já tenham reparado que abordo assuntos ligados aos âmbitos cultural e educacional e seus impactos em nossa sociedade. Como artista, professor, músico e violonista, vejo mais do que nunca que estamos diante de um grande problema: a tentativa de nos tornarmos novamente animais irracionais.
Venho aqui abordar o assunto pois acho importante o posicionamento e o debate por parte de qualquer pessoa, afinal, atitudes como essas estão diretamente ligadas ao que falarei hoje.
Principalmente no mundo atual, as transações financeiras, a moeda, o dinheiro, têm ganhado cada vez mais e mais importância, tornando muitos de nós dependentes do mesmo. Veja bem, no momento, não estou criticando ou questionando a importância do mesmo. Ainda que tenha minha opinião sobre isso, não é o que quero tratar na coluna de hoje. O problema está quando colocamos a busca desenfreada pelo lucro como forma de sobrevivência, antes mesmo de supostamente nos afirmarmos como seres racionais. E essa é a questão que quero colocar aqui.
Como falei tangencialmente no primeiro texto da coluna, ao meu ver, as características mais marcantes a respeito de nós mesmos se tratam acerca da capacidade de reflexão sobre o que percebemos e sentimos. Acredito que este seja um fator crucial que faz com que nossa sociedade mude tão rápido, principalmente em relação à outras espécies da natureza.
Nós somos seres humanos justamente pela nossa capacidade de pensar, refletir e agir na sociedade de forma “instantânea”. Nós somos seres humanos por gastarmos um tempo considerável fazendo coisas que não estão diretamente ligadas à manutenção e perpetuação da nossa espécie. Nós somos seres humanos justamente por estarmos em constante desenvolvimento e pesquisa sobre tudo que nos cerca. Nós somos seres humanos por estarmos sempre atuando em busca de um prazer, de uma felicidade e uma realização, que não necessariamente precisa ser externa, podendo ser associada aos próprios desejos.
Todos esses fatores, que nos diferem de tantas outras espécies, estão diretamente ligados ao desenvolvimento da educação, arte e cultura, três áreas que cada dia são mais descreditadas, desamparadas e sucateadas pelos responsáveis pelas mesmas, especialmente no que se refere aos que gerenciam nosso país. Querem fazer com que todos sejamos animais em busca de um dinheiro que supostamente resolveria os problemas.
Veja bem, não critico as iniciativas privadas, onde muitas delas são importantes e interessantes, principalmente no meio cultural e musical, mas queremos apenas isso para uma sociedade onde falta comida para muitos? Onde falta moradia? Onde milhares ainda não possuem acesso a educação?
Quero demonstrar aqui minha crítica a todas as formas de retaliação e cortes que vêm sendo feitos em diversos âmbitos de nossa sociedade. Fala-se tanto em tornar nosso país “desenvolvido” (nos moldes euro-americanos), mas não se vê a quantidade e o poder de investimento em cultura, educação e artes que é feito nos mesmos.
Divergências sobre como devemos tratar o meio é algo bastante diferente sobre querer extingui-lo, independente de seus ideais. Diferentes formas de governo funcionaram (e também não) em diferentes situações, mas algo que certamente só leva à catástrofe é a extinção da educação e do pensamento.
Não quero me tornar um animal, nem desejo isso aos meus colegas. Acredito que ao menos a grande maioria deles também partilha da mesma opinião. Caso você queira, faça, mas não obrigue um país de 200 milhões de pessoas a se tornar uma fazenda com 200 milhões de cabeças de gado. Viva a cultura brasileira, viva o conhecimento que temos, afinal, eles ficarão na história.
Octávio Silva
Prados Online
2012 Prados Online | cnpj: 15.652.626/0001-50