Em discurso na Pontifícia Academia das Ciências, no Vaticano, nesta segunda-feira, o Papa fez comentários que, para especialistas, puseram fim às “pseudo-teorias” do criacionismo e do Design Inteligente, que alguns argumentam que foram incentivadas por seu antecessor, Bento XVI. Francisco explicou que ambas teorias científicas não eram incompatíveis com a existência de um criador.
– Quando lemos a respeito da criação em Gênesis, corremos o risco de imaginar que Deus era um mágico, com uma varinha mágica capaz de fazer tudo. Mas isso não é assim – disse Francisco.
Ele acrescentou, ainda, que Deus “criou os seres humanos e deixou que eles se desenvolvessem de acordo com as leis internas que ele deu a cada um para que eles cheguem ao seu cumprimento”.
– O Big Bang, que hoje temos como a origem do mundo, não contradiz a intervenção do criador divino, mas sim o exige – acrescentou. – A evolução na natureza não é incompatível com a noção de criação, pois a evolução exige a criação de seres que evoluem.
Por muito tempo, a Igreja Católica tem tido uma reputação de ser anti-ciência – a mais famosa foi quando Galileu enfrentou a inquisição e foi forçado a retirar sua teoria “herege” de que a Terra girava em torno do Sol.
Mas os comentários do Papa Francisco estavam mais de acordo com o trabalho progressivo do Papa Pio XII, que abriu as portas para a ideia da evolução e ativamente acolheu a teoria do Big Bang. Em 1996, João Paulo II foi mais longe e sugeriu a evolução era “mais do que uma hipótese” e “fato efetivamente comprovado”.
No entanto, mais recentemente, Bento XVI e os seus conselheiros mais próximos, aparentemente, aprovaram a ideia de que o Design Inteligente sustenta a evolução – a ideia de que a seleção natural por si só é insuficiente para explicar a complexidade do mundo. Em 2005, seu colaborador próximo Cardeal Schoenborn escreveu um artigo dizendo que “a evolução no sentido da ancestralidade comum pode ser verdade, mas a evolução no sentido neo-darwinista – um processo não planejado e sem guia – não é”.
Apesar do enorme abismo na postura teológica entre o seu mandato e o de seu antecessor, Francis elogiou Bento XVI quando revelou um busto de bronze dele na sede da academia nos jardins do Vaticano.
– Ninguém jamais poderia dizer dele que o estudo e a ciência fizeram com que ele, seu amor a Deus e ao próximo murchassem – disse Francisco, de acordo com uma tradução feita pela “Catholic News Service”. – Pelo contrário, conhecimento, sabedoria e oração ampliaram seu coração e seu espírito. Vamos agradecer a Deus pelo dom que ele deu à Igreja e ao mundo com a existência e o pontificado do Papa Bento XVI.
Fundada em 1603 em Roma, com o nome de Academia dos Linces, a Pontifícia Academia das Ciências é formada por 80 pesquisadores nomeados vitaliciamente pelo papa. De acordo com as regras, os candidatos a uma vaga na academia são escolhidos com base na relevância de suas análises científicas e da sua reconhecida estatura moral, sem qualquer discriminação ética ou religiosa.
Publicado em 29/10/2014
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