Certa vez um centurião aproximou-se de Jesus e, suplicando-lhe a cura de um servo seu gravemente enfermo disse “dize-me uma só palavra e meu servo ficará curado” Lc. 7, 7. Que palavra essencial, terapêutica é esta que o centurião pediu e Jesus podia dar?
Em toda bíblia encontramos uma teologia da palavra. Já no livro do Gênesis, Deus cria por meio de sua palavra: “Deus disse faça a luz, e a luz foi feita”. Gn. 1, 3 A palavra de Deus é criadora, ou se preferirem performativa, ou seja, deu forma àquela realidade amorfa, sem forma e caótica. A palavra ordena, dá forma. Eis a primeira intuição, a palavra dá ordem, dá forma às coisas. A palavra dá ordem ao nosso caos interior. A palavra exorciza nossos demônios! Não é por acaso que a Igreja incentiva a confissão individual, ela sabe que o ser humano tem necessidade de verbalizar, de botar para fora.
Na mesma bíblia a palavra mostra-se vigorosa, ela tem uma força incrível. Ela domina os fenômenos da natureza. Jesus mandou a tempestade se calar: Ele se levantou do barco e disse: “acalma-te, emudece! O vento se aquietou, e fez-se grande bonança”. Mc 4, 39 A metáfora bíblica fala do poder da palavra, não só da palavra de Jesus, mas também da nossa palavra: “palavra é poder”! Quem detém a palavra, detém o poder. Vale lembrar o poder dos meios de comunicação, na sociedade atual, eles manipulam e “fazem a cabeça das pessoas”. Eis a segunda intuição: a palavra é poderosa, pode construir ou destruir! È preciso saber o que se diz, a quem se diz, como se diz, onde se diz. Pe. Zezinho compôs uma canção na qual suplica a Deus “dá-me a palavra certa na hora certa, do jeito certo e pra pessoa certa”. O profeta Jeremias conheceu o poder da palavra. Javé disse a ele que palavra que colocou em seus lábios pode “arrancar e derrubar, destruir e arruinar, mas também edificar e plantar” Jr. 1,10 O apóstolo Paulo também era cônscio do poder da palavra, pois ele mesmo dizia “prefiro falar cinco palavras para edificar outros a falar dez mil que não edificam” 1Cor. 14, 19
Depois desta brevíssima fundamentação bíblica podemos inserir uma distinção: há uma palavra que é consistente, necessária, que possui força e edifica e, por outro lado, existem palavras fugazes, estas caem no vazio. Vale lembrar uma prática antiga: não faz muito tempo as pessoas ao celebrarem um contrato, um negócio, não assinavam documentos, promissórias, somente empenhavam a palavra. A palavra empenhada era o bastante! No contexto atual, onde banalizamos a palavra, parece mentira admitir que não faz muito tempo tal prática tenha existido. Volto a perguntar que, palavra é esta, essencial e terapêutica que o centurião pediu a Jesus? Esta palavra é a verdade, dita com firmeza e caridade. É a palavra que gera lucidez, em última instância, esta palavra é o próprio Jesus. “No princípio era a palavra e a palavra se fez carne” Jo. 1, 14 Jesus é, e sempre será, para nós cristãos, a palavra última e definitiva de Deus, a verdade de Deus para a humanidade sedenta. Desse modo, podemos confessar como Pedro “só tu tens palavras de vida eterna”Jo. 6, 68
Deixo, enfim algumas exortações! Cuide bem da sua palavra, evite emitir juízos precipitados, pré-concebidos. Antes de pré julgar alguém procure saber da verdade! Os antigos tinham um índex, uma lista de palavras malditas que nunca deveriam ser pronunciadas, sobretudo dentro de casa, leve a sério esta intuição. Palavras que ferem, que diminuem o outro não devem ser pronunciadas. Procure ter uma palavra terapêutica para cada um daqueles que se aproximarem de você, para cada circunstância, mas atenção, para se atingir esse estágio de maturidade é preciso antes aprender a ouvir. Ouvir significa entender o que se passa no coração do outro, o que ele quis dizer nas entrelinhas do que disse a mim. Lembre-se: o “não dito”, o velado, é mais importante que o declarado! A sabedoria popular já afirmava com propriedade “para bom entendedor um pingo é letra.
Pe. Dirceu de Oliveira Medeiros
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