Todos nós conhecemos aqueles episódios históricos que antecederam a formação de nosso rico Estado de Minas Gerais. As chamadas “entradas e bandeiras”. Paulistas e portugueses, movidos pela sede do ouro, desbravaram nossa região, até então inóspita e habitada por povos nativos. Abrindo picadas, explorando o ouro e construindo vilas escreveram esta página marcante de nossa história. Conhecemos ainda o que movia essa gente: o desejo de enriquecer-se, de fazer fortuna. Muitas vezes essa exploração resultou em verdadeiros genocídios, nações indígenas dizimadas! Alguns nomes se tornaram célebres nacionalmente, por exemplo, Fernão Dias Paes Leme. Este emprestou seu nome a uma das principais artérias (rodovia) de nosso país, que liga São Paulo a Minas Gerais. Trata-se da famosa BR 381. Exploradores conhecidos regionalmente, como os taubateanos, também deixaram sua marca: Tomé Portes Del-Rei e os fundadores do arraial de “Prados”, os irmãos “Prados”. São eles, Felix e Manoel Mendes do Prado!
O que motivou-me escrever este pequeno artigo foi a celebração dos 25 de falecimento do saudoso Cônego Luis Giarola Carlos, Pároco de San’Ana do Barroso por mais de 40 anos. Sirvo-me de uma metáfora ou analogia “Bandeirante da Fé” para falar de figuras notáveis. São heróis da fé, que deixaram sua marca indelével em nossas comunidades. Em toda a região vamos encontrá-los: Resende Costa, Prados, São João del-Rei, Barroso e tantas outras localidades. Vamos encontrá-los com sua batina preta, sinal de pertença a Deus; envolvidos profundamente na vida social de nossas comunidades e despojados de qualquer anseio por riqueza. Deixaram um legado inquestionável: na saúde, na educação, na urbanidade, na assistência aos mais carente, sem se descuidar, nem sequer por um momento, das “coisas de Deus”!
Permitam-me descrever alguns traços da personalidade deste homem de Deus que marcou minha história de fé. Homem de princípios e retidão de caráter, Cônego Luís atuou em Prados, por um ano, em 1942, como coadjutor do Monsenhor Assis. Quando chegou a Barroso, salvo engano em 1943, minha terra natal não passava de uma vila. Uma vila certamente pobre e esquecida. Ali chegando, Cônego Luís não foi um padre de sacristia, dedicou-se ao desenvolvimento da localidade. Destaco três aspectos em sua vida e ministério sacerdotal e algumas frases fortes que pronunciava:
1- Homem de oração – Dizia sempre “o povo precisa e quer ver o padre rezando”. E assim procedia antes da Missa na Matriz, recitando seu esgarçado breviário (livro de oração dos padres / contendo Salmos, Leituras Bíblicas, responsórios e outros) caminhando, indo e voltando, na nave lateral de nossa bela Igreja Matriz. Cobrava dos coroinhas andarem com o Terço, com um Lenço no bolso, que mantivessem as unhas aparadas! Aulas de urbanidade..o modo de se proceder à mesa, aulas de latim e grego. Agradeço a Deus por tudo isto!
2- Um desbravador – Cônego Luís contribuiu decisivamente para a criação do Hospital de Barroso, na educação, construiu o Lar Nossa Senhora de Fátima (Lar dos Idosos). Assim ele não era só um “cura de almas”. Preocupava-se com o ser humano por inteiro. E assim morreu pobre, em 1988, com 71 anos de idade, sem ter nada, a não ser o seu Fusca 1962.
3- Homem da Eucaristia – valorizava a Santa Missa, madrugava para celebrar a Eucaristia. Um místico era aquele sacerdote. Profundo conhecedor das Sagradas Escrituras, suas homilias eram demoradas, mas edificantes! Seu cuidado com a Palavra de Deus era notório. O desenho da Igreja Matriz de Sant’Ana era seu. Cartão postal de Barroso, construída em estilo neo-gótico, nossa bela Igreja Matriz é rica em simbolismos e vitrais. Sete portas possui nossa Igreja mãe e, em cada porta, símbolos de um Sacramento da Igreja, sinais da Graça de Deus.
Finalmente, mais que louvar este grande vulto religioso, quero também demonstrar a inegável contribuição da Igreja na formação de nosso País e porque não dizer do ocidente. Na educação, na saúde, na cidadania, na arte, na música, a Igreja Católica deixou sua marca e colaboração indispensável! É lamentável perceber hoje setores de nossa sociedade, em nome da tese do “estado laico” negando esta contribuição fundamental. Vale lembrar que o chamado “estado laico” não é, e nem deve ser inimigo da Religião, isto é laicismo! Sabemos que a história da Igreja tem suas sombras e isto não se deve negar, porém as luzes são maiores. Debruçar sobre a história, sem preconceitos e anacronismos poderá nos ajudar a perceber esta verdade: homens e mulheres da Igreja que foram verdadeiros “Bandeirantes da Fé”!
Pe. Dirceu de Oliveira Medeiros
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