Fotos de tempestades chamaram a atenção em Prados. Entrevistamos o autor das imagens...

Entre o fim de março e o começo de abril, imagens registradas de tempestades ocorridas em Prados chamaram a atenção nas redes sociais. O autor dessas imagens foi o Geógrafo Roberto Franco Júnior, que conversou com a equipe do Prados Online.

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Um dos registros mais impressionantes (foto principal da matéria) foi registrado em 01/04, uma sexta-feira com uma intensa tempestade à noite, que resultou em alguns estragos e um blackout em Prados. Em uma conversa rápida, o Geógrafo pradense falou um pouco sobre as fotos, seus projetos e um pouco de sua relação com a natureza. Confira:

Prados Online: De onde surgiu a idéia de registrar essas tempestades?

Roberto: A transição entre verão e outono é historicamente assolada por tempestades repentinas com fenômenos elétricos (relâmpagos) e precipitação de granizo, nossa região possui uma rede de acidentes geográficos, (rios e montanhas), que são cruciais na dinâmica do nosso clima. Além do relevo, há a combinação de vários fatores relacionados ao ciclo natural da água, o qual propicia um ambiente ideal para a conformação deste padrão, fazendo que o mesmo se repita ao longo de um histórico de observação.

O que acontece neste período é que a umidade acumulada na atmosfera, na forma de nuvens e vapor difuso no meio, onde o processo de evaporação e condensação se perpetua, faz com que essas gotículas enfrentem muitas colisões com a umidade que ali está, e enquanto sobem, elas passam de uma camada mais quente da atmosfera para uma camada mais fria, com nuvens que podem chegar a 10 km de altura. Nesta longa viagem que as pequenas gotas de chuva fazem, partindo de altas temperaturas na superfície, atingindo temperaturas extremamente baixas à medida que chegam ao ponto mais alto das nuvens, faz com que um ciclo de resfriamento e condensação agregue impurezas como a poeira, gelo e água, que ao precipitar, manifestam-se na forma de granizo. Este ciclo constante é desencadeado pela energia que está no sistema, uma energia que embora invisível aos olhos não treinados, e que muitas vezes se consolida discretamente, podem se manifestar de forma grandiosa, no tocante a sua intensidade, beleza e estragos proporcionados a “bem feitorias” do ser humano. Para mais informações sobre a formação de granizo, entre no link: https://www.youtube.com/watch?v=guLKzpSL0II

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Diante desta junção de acontecimentos a oportunidade para se dedicar a fotografia de tempestades é dada, imagens podem ser registradas com mais clareza e frequência neste período, sendo que, a atmosfera está carregada de energia e extremamente limpa.

Prados Online: Que tipo de lente, câmera e técnica você usa nos registros?

Roberto: Para registros noturnos onde são capturados fenômenos naturais como esta tempestade, ou até mesmo o registro das estrelas, é necessário um equipamento em que você controle absolutamente. As chamadas câmeras “DSLR” sigla em inglês para (Digital single-lens reflex), permite ser ajustada manualmente pelo operador, que interpreta a luz natural do momento e a transforma em fotografia.

Muitos amigos me perguntam se clico logo quando o raio se manifesta, e sempre brinco que não sou vidente ou até mesmo o “The Flash”, o que acontece neste tipo de fotografia é que exponho a velocidade do “click” a longos períodos que podem ser variáveis a partir da minha necessidade, me permitindo pescar a tempestade após identificar sua posição na paisagem e compor uma imagem que seja agradável aos olhos. Para as fotografias que estão aqui usei uma lente simples, a chamada 18-55mm, a qual permite um grande ângulo de visão, além da minha câmera, uma Canon 400D, bem simples, porém bem aproveitada. É importante lembrar que para esta linha de fotografia é necessário o uso de um tripé, que estabiliza a câmera.

Prados Online: Fala um pouco sobre você, sua profissão e a relação com a fotografia.

Roberto: A paixão pela fotografia surgiu pela necessidade de registrar meus trabalhos como Geógrafo, de usar este artifício para me ajudar na interpretação da paisagem como um objeto de estudo. Após anos trabalhando e sempre tendo uma câmera na mão, fui me aprofundando também no estudo da fotografia, onde me vejo consolidado e que em breve renderam bons frutos e trabalhos incríveis.

A Geografia esta na raiz de quem a estuda e a pratica impregna na alma assim como o perfume de uma flor, e é inegável que ela me acompanhe em trabalhos fotográficos, seja me ajudando na interpretação de fenômenos naturais, seja nas manifestações culturais ou até mesmo na vida dos esportes de ação, um tema que pratico e curto cada vez mais. Como é dito, “uma fotografia vale mais do que mil palavras”, no entanto, ela pode ser enriquecida com bons textos que situa a imagem a uma manifestação de vida, seja ela natural ou humana.

Prados Online: Fotografia não é sua profissão, mas temos visto belas imagens da natureza, de eventos e agora essas da tempestade. Existe algum projeto, de exposição ou coisa nesse sentido? Ou a foto é realmente um hobby que você pratica, faz bem feito, e assim pretende continuar.

Roberto: No momento faço parte de uma equipe da UFMG que estuda os impactos ambientais relacionados ao desastre com a barragem de rejeitos da Samarco, no Município de Mariana, MG, evento que se mostra cada vez mais cruel não só no que diz respeito à fluidez de fenômenos naturais ligados ao Rio Doce, mas também na interação social que havia com o mesmo. Desde o início do ocorrido, a população diretamente atingida vem sendo enganada e maltratada. Já possuo algum material fotográfico que fiz durante nosso primeiro trabalho de campo. Uma segunda visita está agendada para o período de estiagem, e nesta oportunidade, farei fotos não só de cunho ambiental, mas também social. Pretendo expor o resultado no dia 5/11/2016, data em que completará um ano da tragédia.

Também pretendo fazer um copilado de imagens que possuo, não só fotografias de nossa cidade ou até mesmo da sempre surpreendente serra de São José, mas também de outros estados que tive oportunidade de conhecer e conviver. Possuo muitas imagens do cotidiano do Brasil que gostaria de expor principalmente nas escolas da cidade, este último ainda sem uma previsão concreta.