O maior balneário da Região Metropolitana de Belo Horizonte se tornou uma espécie de mapa da mina para caçadores de tesouros do século 21. É quando o espelho d’água da represa Várzea das Flores encolhe que aumenta a chance dos detectoristas encontrarem objetos valiosos perdidos pela multidão de banhistas que invadem o cartão-postal, na divisa de Contagem e Betim, nos fins de semana e feriados prolongados.
Os tesouros deste século são alianças de ouro, colares de prata e diversos acessórios com pedras preciosas. A lagoa faz parte do sistema Paraopeba, que abastece a capital e cidades vizinhas. Nesta semana, segundo a Copasa, o nível da represa ficou em torno de 59%. O percentual é prato cheio para quatro amigos que têm no detectorismo uma grande diversão e a esperança de lucro.
O pesquisador Vandeir Santos, de 46 anos, o biólogo Hélio Souza, da mesma idade, o fotógrafo Deivisson Fernandes, de 33, e a operadora de caixa Charlene Silvestre, de 25, foram à Varzea das Flores em busca de achados. Eles enxergam a represa como um mapa: a oportunidade de ouro está nas praias que mais atraem banhistas.
O kit dos caçadores de tesouros do século 21 inclui protetor solar, chapéu que cobre tanto a cabeça quanto o pescoço, garrafas de água e, claro, detectores e pazinhas. Os sons dos equipamentos atraem curiosos e mantêm olhares no grupo de amigos. Um dos locais prediletos do quarteto é a prainha atrás da venda de seu Deusdede Cordeiro Machado, de 69.
Ele deixa os aventureiros animados: “O volume do lago está baixo”. O caçula dele, Cordeirinho, de 4, faz questão de acompanhar os três homens e a mulher. O garoto fica encantado com o barulho dos equipamentos. Mas não é tão fácil encontrar objetos. Na maioria das vezes, o alarme dispara sobre coisas sem valor financeiro, como lacres de latas de cerveja e chumbadas perdidas por pescadores.
“O som do aparelho quando encontra um lacre enterrado na terra é o mesmo de uma aliança de ouro. Não podemos desperdiçar a chance. Temos de conferir o porquê do barulho emitido pelo detector”, diz Vandeir enquanto observa, a uns 20 metros, o biólogo Hélio se entusiasmar com o alarme de seu equipamento.
Ele se abaixou, pegou uma pequena pá e a enfiou na areia. Retirou de lá uma chumbada. A enfiou no bolso e continuou em busca de algo valioso. Dois ou três passos depois, parou e observou o fotógrafo Deivisson dizer: “Achei uma moeda: R$ 0,50”. Mas ele já encontrou uma moeda do século 18: “É de cinco réis, fabricada em 1774”.
Diante da data, ele concluiu que a região da represa já foi ocupada, na época do Brasil-Colônia, por fazendas e paragens de tropeiros. “É o detectorismo histórico, a arqueologia amadora, como dizem”. A caça aos tesouros também tem cunho social.
Quem explica é o biólogo da turma: “Recolhemos lacres de garrafas, pregos, cacos de vidro e outros objetos cortantes. Nosso comportamento é sempre o mesmo: recolher esses materiais para evitar acidentes. Ajudamos a deixar o local limpo, protegendo-o para as futuras gerações. É educação ambiental”.
A explicação dele foi interrompida por um barulho do equipamento de Vandeir. O pesquisador ficou animado com o som. Limpou o suor que escorria pelo rosto e colocou os dois joelhos sobre o capim alto. “Estou com uma sensação boa, boa mesmo”. Vandeir fez questão de ajeitar os óculos antes de começar a cavar a terra.
“Será que é? Será que é?”, questionou a si mesmo. Alguns segundos depois, explodiu de alegria. “É de ouro! É uma aliança de ouro”. A joia, pesada horas depois, tem 4,8 gramas do metal precioso. Rendeu ao pesquisador, conforme valor de mercado na capital mineira, algo em torno de R$ 400. “A caçada de hoje valeu muito a pena”, comemorou Vandeir.
Fonte: O Estado de Minas
Publicado em 25/01/2017 ás 12:35
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