Cerâmica de Laura Mousinho. Ao fundo, Serra de São José. PradosFoto própria. 2018.
Há dois anos, em 2017, tive a oportunidade de conhecer algumas cidades, e Passa Quatro, no sul de Minas foi uma delas. Na ocasião, visitei o belo local que possui imensuráveis belezas naturais.
Fui por motivos profissionais a convite do colega Gabriel, que espero poder falar sobre seu trabalho em breve, mas em outra ocasião. Como a maioria das viagens, passei por muitas pessoas, e uma das surpresas que tive ao conversar com as mesmas foi quando soube que algumas delas já haviam visitado Prados, e que se lembravam muito bem do local, “daquela cidadezinha onde todos eram músicos ou artistas”.
Após os concertos em Passa Quatro e região, chegando ao Campo das Vertentes fiquei com o pensamento na cabeça, e realmente, todos – ou a grande maioria – dos cidadãos pradenses são artistas, e muitos sem saber. Vou mencionar dois pontos específicos para ilustrar a situação: a música e as artes plásticas.
Em toda nossa região, temos a felicidade de possuir várias instituições que oferecem aulas de instrumento e musicalização desde cedo, na maioria das vezes de forma gratuita. Com uma tradição que remonta aos cenários de uma Minas Gerais ainda colonial no auge da exploração do ouro, a música se mantém como uma prática importante, seja ligada à atividade religiosa ou não. Em Prados, uma parte considerável da população passou e ainda passa pela Lira Ceciliana, instituição datada de meados do século XIX. Recentemente, na segunda metade do século passado a figura de Adhemar Campos Filho foi fundamental para reacender a paixão pela música. Atualmente temos na instituição dois coros (um para semana santa e outro de música popular), orquestra, grupos de flauta doce, violino e violão, todos gratuitos.
Em Prados, duas “escolas” são também importantes para a iniciação e atividade musical: a UCA e o Gato Preto, que em tempos de carnaval mobilizam dezenas, centenas de pessoas, principalmente com suas atividades musicais através das baterias. Tradição essa que começou mais fortemente na década de 60 e se prolonga até os dias de hoje. Poderia falar de n atividades existentes, mas mencionarei aqui as que acredito envolverem uma quantidade maior de pessoas, bem como as que pude presenciar enquanto morador de Prados.
Ainda na pequena cidade aos pés da Serra de São José, são muitas famílias, gerações e gerações que tiram seu sustento do artesanato, principalmente em madeira, que é nacionalmente reconhecido*. Hoje pode ser um utensílio, algo para decorar a casa, grandes decorações, ou quem sabe uma devoção religiosa. Amanhã pode ser uma obra em exposição em algum museu, retratando um pouco da cultura pradense e mineira e sua estética bastante característica. Temos obras de artistas pradenses em exposição até na Pinacoteca de São Paulo**, ou ainda em diversos locais ao redor do Brasil como sinônimo de qualidade e imponência no trato da madeira. Animais em madeira bem maiores que seus respectivos em carne e osso, e por aí vai.
Vale mencionar também Bichinho, parte de Prados e que possui uma produção belíssima e extremamente importante para Minas e até para o Brasil no cenário atual. Com uma estética em geral diferente do que se encontra no centro da cidade, temos lindas obras dos mais diversos materiais, além pintores e ceramistas no local e em outras regiões da cidade. De todo modo prefiro não citar nomes pelo receio de acabar ou esquecendo ou desconhecendo alguém ou algo que foi importante. Prefiro deixar para falar pontualmente de trabalhos específicos em outra ocasião, principalmente trabalhos musicais. São algumas impressões de alguém jovem que embora não seja de Prados, se considera pradense, e faz algum tempo que mudou para a cidade. Muitas vezes no cotidiano não conseguimos vislumbrar essas belezas, mas ao sair, especialmente quando ouvimos vários comentários de diferentes pessoas, voltamos sempre enxergando algo novo.
O fato é que Prados é um museu a céu aberto. Temos uma grande produção artística e cultural disfarçada no cotidiano, entre trabalhos e sustentos, entre lazer e celebrações religiosas. Precisamos valorizar mais, aproveitar mais o que a cidade oferece. Por que não fazer uma semana apenas com atrações e obras de artistas locais? Um grande evento enaltecendo a cultura daqui? Aqui vai uma ideia, seja ela para autoridades locais ou pessoas interessadas no assunto. Aqui, todos são artistas, mas muitos não sabem. É possível que alguns também não tenham esse interesse, mas seus nomes ficarão gravados na história quer queiram quer não.
Octávio Deluchi
* = Fato curioso, que embora não seja tão valorizado assim na cidade ou na região, em diferentes locais que já estive presente, puder ver obras, ou ouvir sobre pessoas ou “casos” relacionados ao artesanato pradense, por isso o uso do termo.
** = Pesquise por “Itamar Julião” – Pinacoteca de São Paulo – Obras
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