Foto: Thamiris Chaves. 02 de Junho de 2019. Lira Ceciliana
Tivemos ao longo dessa última semana o lançamento do EP Piracema, de Aduar, formado pelos músicos Gabriel Guedes (violão e voz) e Thobias Jacó (viola caipira e voz). Entre quarta-feira e domingo, foram 4 eventos na região, sendo dois em São João del-Rei, um em Tiradentes e um em Prados, e quero justamente falar desse último, o que estive presente. Infelizmente não consegui acompanhar os demais por motivos de ausência do Campo das Vertentes.
Aduar é um conjunto formado em 2017 no contexto do cenário cultural e estudantil de São João del-Rei. Gabriel, da pequena cidade de Passa Quatro, ao sul de Minas, se encontrou com Thobias Jacó, de Posto da Mata, no sul da Bahia. O EP possui cinco faixas: O Silêncio do Rio, Terra Nossa, Sentinela, Índia Tuíra e Do que depende o perdão. Possui uma arte gráfica bastante bonita, feita por Jessé Duarte e com foto de Davi Guedes, que por sua vez é emblemática, de um Ingazeiro mais que centenário, da cidade berço de Gabriel.
Todos os arranjos e músicas, feitos por Aduar, sendo únicos e inséteis no EP, ganham uma dimensão a mais ao vivo. O que mais salta aos ouvidos é a união de timbres resultante de cada uma das vozes e instrumentos. O que ouvimos no último domingo é uma simbiose entre música e homem em uma forma sincera e direta. O trabalho de Aduar já possui vida própria e corre em nosso imaginário. Exemplo facilmente ilustrado com o fato de que as pessoas que estiveram presentes na primeira apresentação do duo em Prados, meses atrás, no segundo semestre de 2018, cantavam facilmente as músicas que haviam ouvido aquele dia.
Apesar do projeto recente, reconhecimentos estão vindo. Em Nazareno, no FESTINAZA, foram premiados com o primeiro lugar das duas maiores categorias, de música original e não-original. e em Barbacena, com o segundo lugar geral no VI Festival de música popular livre de Barbacena, este que teve o Coletivo Borandá como vencedor (espero e pretendo em breve falar também desse outro trabalho lindo). Estarão indo em breve também para festivais da canção em outras partes do Brasil, com datas marcadas já.
Voltando ao EP, as influências do cancioneiro mineiro pela música e nordestino e baiano pelos temas é perceptível aos ouvintes mais atentos. Com isso, temos o resultado de uma música maravilhosa, com as especificidades de cada compositor – ou de ambos no caso – e da persona artística Aduar. Da lastimável tragédia de Mariana, passando pelo ode à Terra e natureza, ganância do humano moderno, nosso distanciamento das raízes e chegando até “esperança”, última palavra do EP de lançamento do duo, são todas músicas bem mais profundas que melodias e acompanhamentos. Nos desafiam e convidam a realizar diversas reflexões sobre nosso papel no mundo hoje, bem como o meio que vivemos. Reflexões sobre o mundo que queremos e suas diferenças em relação aos caminhos que temos visto são muito bem vindas.
No último domingo, dia 02 de Junho, ficamos todos estáticos e extáticos frente ao duo. Estáticos pela marcante presença de palco e cenário que tínhamos, na tradicional Lira Ceciliana, em uma noite razoalmente fria, bastante agradável, pelo que presenciamos com nossa visão e tato. Extáticos pela experiência que envolveu nossa audição, e assim a música que transitou entre nossos corpos, que nos maravilhou naquela noite.
Foto: Thamiris Chaves. 02 de Junho de 2019. Lira Ceciliana. Parte do público do evento.
Por diversos motivos certamente precisamos ouvi-los ao vivo, e conferir o Ep lançado há menos de uma semana. Torço muito para que esse trabalho tome grandes proporções, e que chegue a mais e mais pessoas. O trabalho autoral não só desses artistas, mas de toda a região ascende a olhos vistos. Temos excelentes produtos surgindo, e que estão realizando lançamentos inéditos e/ou em fase de produção final dos trabalhos. Espero conseguir falar mais de cada um deles, que são muitos, e reforçam nossa qualidade cancioneira da região, de Minas, do Brasil, da América Latina.
Octávio Deluchi
Prados Online
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