Meio século
Meio século, cheguei lá! O quê? Por que estou dizendo isso? Não é meio século, são cinquenta anos, bem vividos diga-se de passagem. Como dizia-me um conhecido (ou desconhecido, nunca conhecemos realmente uma pessoa), quando fez cinquentão: não fale meio século Luizão, é muito tempo, é mais que cinquenta anos. Claro que quantitativamente é o mesmo valor, mas realmente soa como se fôssemos contemporâneos ao rei Tutankamon, a Maomé, Jesus Cristo ou Matusalém.
Estou refletindo muito nesse marco, confesso que não me assusta, pelo contrário, estou achando muito interessante, é como se estivesse completando 18 anos, aliás, estou gostando mais dessa data, parece meio estranho, mas é verdadeiro meu sentimento. Aos dezoito a pressão foi muito grande: vai fazer vestibular para Farmácia igual ao seu pai né? Já tirou carteira? Vai casar quando? E a pior das pressões: o alistamento militar. Socorro!!! O meu foi uma verdadeira saga. Morri de medo de ter que servir à pátria amada, idolatrada, salve, salve. Saí ileso dos dezoito. Não passei no vestibular, não tirei carteira, não casei, e o melhor de tudo: não servi ao exército!!!
Os anos foram passando normalmente. Passei no vestibular aos 23 (não Farmácia, Biologia), casei aos 27 e tirei carteira aos 28 anos, ufa!! Missão quase cumprida, faltavam os filhos. Aos 29 veio o primeiro. Gente, a sensação que tive foi de poder, mas um poder especial: o poder da criação, poder este destinado a Deus. Senti-me o Próprio quando criou Adão e Eva. Imagino o seu orgulho. Aos 34 a confirmação de minha “divindade”: uma filha. Não gostaria que essas minhas afirmações soassem como arrogância ou prepotência, não foi nenhuma das duas, foram alegrias imensas de poder ser Pai.
Várias coisas aconteceram no decorrer dos anos. Perdas inestimáveis, sucessos, fracassos, alegrias mais que tristezas, até chegar aos cinquenta ou meio século, como queiram, para mim são apenas formas de grafias diferentes, não me importo com rótulos.
O fato é que o amadurecimento veio junto com a idade. Aquele arfante desejo de velocidade para as coisas da vida, da quantidade em detrimento à qualidade, do excesso, naturalmente todos foram mitigados ao longo dos anos.
Não há mais a necessidade de vestibular. Não há mais a necessidade de tirar carteira. Não há mais a necessidade de casar e nem ter filhos, há sim a necessidade de manutenção dessas conquistas.
Hoje, a qualidade, a tranquilidade e a vagareza falam mais alto. Antes as palavras eram ditas numa velocidade maior que a do pensamento, às vezes causando dor. Hoje o pensar duas vezes freia o ímpeto das palavras ditas. Hoje descobri o real sentido de que o ouvir e o observar falam mais que mil palavras. Não tenho mais pressa, talvez por saber que me restam poucas cerejas na bacia, ou por saber que o tempo dos acontecimentos hoje possua uma velocidade maior, e por isso, vou na contramão tentando freá-los.
Uma tentativa vã de aumentar a quantidade daquelas cerejas na bacia de minha vida.
Enfim, agora é tocar o barco. Quem sabe por mais cinquenta anos ou meio século.
Por favor: leiam sempre!!!
Um abraço e até breve.
Luiz Cláudio Vieira Cangussu
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