Aos colegas brasileiros, quantos de vocês se sentem reconhecidos e representados quando o assunto é América Latina? Diriam para alguém que é latino-americano? Uma reflexão que o grande cantor e compositor Belchior levantava bastante, com êxito, beleza e colocando o dedo na ferida ao meu ver. Embora muitas vezes não pensamos por essa perspectiva, convido todos os leitores a refletir sobre. Especialmente depois que me mudei de país, vi a força e toda a bagagem que o termo latino-americano carrega. Apesar de todos os problemas, me sinto feliz ao utilizar essa expressão, e em algumas situações carrega uma quantidade de significados maior que a identificação como brasileiro.
Uma discussão que pode ser semelhante dentro do meio em que trabalho é sobre a relação do instrumentista-artista. Quantos de vocês se consideram artistas, ou falam: “eu trabalho com arte”? Música é sim uma das manifestações artísticas presentes entre as diversas formas de expressão, mas nem todos os músicos se consideram como tal. O ponto em que quero chegar é que as experiências artísticas possuem uma força imensurável de trabalhar com os sentimentos e emoções humanas. Cada vez que entro em um museu, exposição ou presencio uma obra fico mais e mais fascinado, especialmente se estou revisitando o lugar, absorvendo mais informações. Não importa o tamanho do espaço, um dia inteiro nunca será suficiente para se familiarizar e absorver diferentes pontos das obras. Com essa ideia estive presente em algumas exposições na última semana, em Washington D.C., a famigerada capital dos Estados Unidos.
É uma cidade conhecida pela grandiosidade e diversidade de museus, em sua maioria com entrada gratuita ao público. Em poucas quadras você pode gastar um ano inteiro de visitas e ainda não sentir satisfeito, pela quantidade e tamanho dos acervos. Atualmente, com toda a tecnologia, podemos ter acesso à um acervo gigantesco de obras pelo computador e internet, e como estudante de música, de artes, faz algum tempo que tenho tentado me aproximar cada vez mais dessa área e me inspirado em obras referências, afinal, não só de violão o músico vive e deve se saciar. O fato é que por felizes coincidências geográficas pude investir algumas horas na National Gallery, e me deparei com originais de Monet, Da Vinci, Van Gogh, Cezanne, Degas, Rembrandt e muito mais, para citar aqui os que me impactaram em maior grau.
Naquele momento, projeto a imagem de todos esses artistas, cada um em seu tempo, em uma parte do mundo, muitas vezes há 500 anos, referências, influências, obra de vida, problemas e traço específico. Simplesmente frente à todas as obras que os mesmos conceberam e que apesar de todas as reviravoltas históricas, estavam ali no mesmo espaço, no mesmo momento que este que vos fala e muitos outros visitantes do local. É uma sensação indescritível que demorará ainda um bom tempo para ser compreendida melhor, e algumas visitas novamente. Quem acompanha a coluna pode imaginar o poder imenso e simbólico que todas essas obras tem, principalmente quando defendo a arte como uma das manifestações humanas mais importantes.
Leonardo Da Vinci – Ginevra de’ Benci
Aproveitem e desfrutem de serem (ou não) artistas, de serem (ou não) latino-americanos, mas principalmente de terem toda essa expressão e comunicação que só a arte tem.
Octavio Deluchi
Prados Online
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