A nova lei que regulamenta a produção e comercialização de queijos artesanais em Minas Gerais pode beneficiar cerca de 200 produtores rurais do Campo das Vertentes. De acordo com a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), a região é a que tem maior concentração de pequenas e médias indústrias de laticínios no estado e também é reconhecida pela produção de queijos finos.
O decreto assinado no último mês pelo governador Romeu Zema (Novo) regulamenta a Lei nº 23.157, de 2018. Até então, só quem produzia o minas artesanal, conhecido como casca lavada, podia se formalizar para emitir nota fiscal, por exemplo.
Para ter o certificado, os produtores vão ter que seguir normas sanitárias, como vacinar o gado e examinar os animais; filtrar e analisar o leite; ter uma estrutura específica para produção do queijo; e os trabalhadores terão que usar equipamentos de proteção individual.
Para entender o impacto da regulamentação para a região produtora do Campo das Vertentes, o G1 conversou com especialistas da Epamig, Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado Minas Gerais (Emater) e com a presidente da Associação de Produtores de Queijos Artesanais do Campo das Vertentes (AQMAV). Veja abaixo.
Produção de queijos atende mercado em São João Del Rei — Foto: Reprodução/TV Integração
Segundo o coordenador do Programa Queijo Minas Artesanal (QMA) da Emater, Milton Nunes, a regulamentação desta lei abre caminho para a construção de regulamentos técnicos de qualidade e identidade, que até então só era possível para o queijo tipo minas.
“Só queijo minas artesanal possuía possibilidade de conseguir registro, ou seja, inspeção sanitária, sair da clandestinidade. Agora, todos os queijos artesanais poderão construir seu regulamento. É extremamente importante”, explicou. Nunes informou que a primeira lei que regulamentou este queijo foi específica e feita em 2002.
Atualmente, há 13 variedades de queijo artesanal conhecidas em Minas. Com a regulamentação, há expectativa desse número dobrar. Cada queijo vai ganhar um certificado com as próprias características e os tipos artesanais de queijo parmesão, requeijão moreno, Mantiqueira, muçarela cabacinha e o queijo mofado poderão sair da informalidade.
A produtora do queijo minas artesanal Catauá e presidente da Associação de Produtores de Queijos Artesanais do Campo das Vertentes (AQMAV), Mariana Resende, também considerou a medida um passo importante, mas alertou sobre a necessidade de diálogo com os produtores rurais para que os regulamentos atendam às necessidades de cada tipo e região.
“Tem muitos detalhamentos que ainda precisam ser muito bem estudados. Em todo o decreto pode-se notar que vários parágrafos são finalizados com ‘conforme dispuser em regulamento’, ou ‘observado regulamento específico’, entre outros. É aí que precisamos estar atentos e sempre muito participativos. É preciso que esses regulamentos específicos sejam feitos com a participação dos produtores, para que a lei de fato seja aplicada à realidade dos pequenos produtores de queijo artesanal”, explicou.
Ela informou que, como produtora, conta com bom trânsito com o Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), mas que é importante relembrar a importância da inclusão dos pequenos produtores em todo o processo. “Sem essa participação, continuaremos tendo leis que atendem aos grandes e exigem absurdos dos pequenos”, contou.
Propriedade rural em Coronel Xavier Chaves, no Campo das Vertentes — Foto: Ruzza Lage/Divulgação
O pesquisador da Epamig no Campo Experimental Risoleta Neves, em São João del Rei, Daniel Arantes, estima que há cerca de 200 queijarias no Campo das Vertentes. A região é tradicional produtora de queijos minas artesanal e também abriga grande quantidade de produtores do minas frescal e o muçarela.
“Nos últimos 5 anos, esse tipo de queijo (minas artesanal), tem ganho prêmios estaduais e nacionais. Este reconhecimento tem aumentado muito o interesse de produtores de leite em investir em queijarias para processar seu próprio leite, agregando muito mais valor com a venda do queijo, que tem ganhando um crescente destaque gastronômico nas feiras regionais e estaduais”, explicou.
Atualmente, seis queijarias das Vertentes estão cadastradas junto ao IMA. Entre elas, está a Catauá, do pai João Carlos Dutra e da filha Mariana Resende. Há 35 anos, a família tem a queijaria em Coronel Xavier Chaves, a 15 km de distância de São João del Rei.
“Menos de um mês depois, percebemos que as vendas voltaram gradativamente. Acreditamos que se deve ao fato de que, as pessoas passando mais tempo em casa, acabaram consumindo até mais e, como temos muitos parceiros lojistas que rapidamente adequaram seus negócios para vendas por delivery, não sentimos tanto uma baixa nas vendas”, afirmou Resende.
Por conta do impacto inicial em março, eles decidiram baixar a produção, venderam algumas vacas e passaram a produzir apenas uma vez ao dia. Antes, eram feitas duas ordenhas por dia. “Isso acabou afetando nas vendas, porque a demanda acabou ficando maior e não demos conta de atender normalmente”, explicou Mariana.
Daniel Arantes explicou que a redução inicial das vendas no início da pandemia foi causada pelo fechamento temporário de empórios, mercados, lojas e restaurantes. Para enfrentar a baixa nas vendas, ele relatou que muitos produtores adotaram medidas para reduzir volume de produção e também venda de animais.
Entretanto, a necessidade de estocar o queijo por um período mais longo fez com que o tempo de cura e maturação aumentassem o sabor e o aroma, transformando em um produto diferenciado para novos consumidores e mercados.
“O que os produtores relatam é que aumentou muito a demanda por esse queijo fruto do isolamento forçado. Com o passar do isolamento e o aumento da conexão com mídias sociais e aplicativos, o produtores de queijos artesanais incrementaram suas estratégias de vendas pela internet e com entregas delivery que assim puderam retomar sua produção normalmente”, afirmou o pesquisador.
*G1
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