Os sete principais reservatórios da Cemig em território mineiro estão com níveis abaixo dos 50%. Há apenas 45 dias, quatro deles ainda estavam com a capacidade acima da metade. A situação mais crítica continua sendo nos reservatórios de Nova Ponte, no Rio Araguari, com 11,18%, e Emborcação, no Rio Paranaíba, com 10,59%, que já apresentam volumes próximos aos menores já verificados no histórico. Ambos estão no Triângulo Mineiro.
Mas a queda dos volumes em outras represas, em apenas seis semanas, já é revelador de como a crise hídrica afeta a produção de energia em nosso Estado. Somente na usina de Queimado, na cidade de Cabeceira Grande, Noroeste de Minas, o volume caiu de 65,4% para 45,2%, entre o início de agosto e o dia 20 de setembro.
Em Irapé, usina localizada em Berilo, no Vale do Jequitinhonha, o nível desceu de 45,36% para 25,62%, no mesmo período. Até mesmo na pequena Cajuru, no Centro-Oeste, que não está ligada ao sistema nacional, a queda foi acentuada, de 65% para 28,4%.
Outro importante reservatório de Minas é Furnas, administrado pela Eletrobras. O reservatório da Usina de Furnas encontra-se atualmente com volume útil de 15,07%. “A Usina está operando conforme despacho do Operador Nacional do Sistema (ONS), com uma geração em torno 257 MW, o que corresponde a 21% da capacidade instalada. A Usina de Furnas possui capacidade instalada de 1.216 MW”, afirma a empresa.
Por enquanto, sem racionamento
Os baixos níveis nos reservatórios não indicam um racionamento de energia em um primeiro momento, já que o sistema de fornecimento de energia no país acontece de forma interligada, permitindo que o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) transfira eletricidade gerada no Nordeste para abastecer consumidores das regiões mais afetadas – Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Conta ainda com a geração das termoelétricas, que estão sendo usadas em sua máxima capacidade.
Ações têm sido desenvolvidas pelo governo federal, como aumentar o preço da energia elétrica, restringir a navegação nos rios Tietê e Paraná (para viabilizar o funcionamento da usina de Ilha Solteira), desconto para pequenos consumidores e pré-agendamento de fornecimento para grandes empresas (Resposta Voluntária da Demanda).
A grande questão é se essas ações são suficientes para lidar com um problema que não parece pontual, já que a região central do país sobre com níveis de chuva abaixo da média há uma década. “Estamos enfrentando e vamos enfrentar ainda um período de estiagem muito severo, que com certeza vai impactar sobremaneira nos armazenamentos dos nossos reservatórios”, afirma Ivan Sérgio Carneiro, gerente de Planejamento Energético da Cemig.
Ele defende que haja uma equalização no uso da água, restringindo usos como recreação e navegação. “É importante que todas as comunidades ribeirinhas de todos reservatórios se preparem para a estiagem e ajustem o sistema de uso da água, seja para captação, abastecimento ou hidratação animal. É importante que isso seja ajustado para enfrentar esse período seco”, diz.
Roberto Brandão, pesquisador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), reconhece que o governo tem feito diversas ações para evitar um racionamento de energia. Mas precisa enfrentar uma questão estrutural histórica para que a situação não se perdure por um tempo muito prolongado.
“A questão é que o sistema não é planejado para secas como essa deste ano. Podemos escapar neste momento de um racionamento porque a economia não cresceu como gostaríamos”, diz o especialista, lembrando que, desde 2012, o país teve um nível normal de precipitação somente em 2016.
“Ano que vem teremos uma situação delicada, os reservatórios vão chegar vazios ao período úmido e será difícil recuperá-los. Se tivermos mais um ano seco, no mínimo teremos energia mais cara durante o ano inteiro”, completa o especialista.
Identificar impactos
Segundo a Cemig, o principal papel da empresa na gestão dos reservatórios, dado o cenário de escassez hídrica, tem sido identificar os principais impactos da operação do reservatório em níveis reduzidos e alertar aos demais usuários do potencial impacto associado.
“Cabe ressaltar que os principais reservatórios da Cemig têm sua operação e despacho energético coordenados pelo ONS, que é responsável pela definição da política operativa dos reservatórios de forma a atender as necessidades do Sistema Interligado Nacional (SIN)”, diz a empresa.
De acordo com a Cemig, o ONS e Câmara de Regras Excepcionais para Gestão Hidroenergética (CREG) têm viabilizado a flexibilização de restrições hidráulicas nas usinas da Região Hidrográfica do Paraná, incentivado a redução da demanda de energia, dentre outras ações, como incentivo à redução voluntária do uso de energia.
Veja como estão os níveis dos sete principais reservatórios da Cemig:
Cajuru (Divninópolis): 28,40%
Camargos (Itutinga): 21,42%
Emborcação (Araguari): 10,59%
Irapé (Berilo): 25,62%
Nova Ponte (Araguari):11,18%
Queimado (Cabeceira Grande): 45,22%
Três Marias: 41,57%
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