Foi a primeira vez desde 2015 que o índice estourou o limite do sistema de metas. Gasolina, item de maior peso no IPCA, acumulou alta de 47,49% ano ano, e o etanol, 62,23%. Veja lista dos vilões da inflação.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – a inflação oficial do Brasil – fechou 2021 em 10,06%, sob forte influência dos preços dos combustíveis, segundo divulgou nesta terça-feira (11) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“Essa é a maior taxa acumulada no ano desde 2015, quando foi de 10,67%”, destacou o IBGE.
Em 2020, o IPCA foi de 4,52%. Foi também a primeira vez desde 2015 que a inflação ficou acima de 10%.
Em dezembro, porém, o IPCA desacelerou para 0,73%, após ter registrado taxa de 0,95% em novembro.
Mesmo tendo desacelerado em dezembro, a inflação de 10,06% no acumulado no ano ficou bem cima do teto da meta para 2021, que era de 5,25%. Quando isso acontece, o Banco Central tem de escrever uma carta pública explicando as razões. Pelo sistema vigente, o IPCA poderia ficar entre 2,5% e 5,25% para a meta ser oficialmente cumprida. O objetivo central oficial era de 3,75%.
Foi a primeira vez desde 2015 que a inflação oficial estourou o limite do sistema de metas.
A inflação de dois dígitos em 2021 foi puxada principalmente pelo grupo “Transportes”, que apresentou a maior variação (21,03%) e o maior impacto (4,19 pontos percentuais) no IPCA do ano. Na sequência vieram “Habitação” (13,05%), que contribuiu com 2,05 p.p., e “Alimentação e bebidas” (7,94%), com impacto de 1,68 p.p. Juntos, os três grupos responderam por cerca de 79% do IPCA de 2021.
“O grupo dos Transportes foi afetado principalmente pelos combustíveis”, explicou o gerente do IPCA, Pedro Kislanov. “Com os sucessivos reajustes nas bombas, a gasolina acumulou alta de 47,49% em 2021. Já o etanol subiu 62,23% e foi influenciado também pela produção de açúcar”.
Outros destaques de alta no grupo foram automóveis novos (16,16%), usados (15,05%), passagens aéreas (17,59%) e transportes por aplicativo (33,75%).
A disparada da inflação em 2021 também é explicada pela alta de commodities, desvalorização do real frente ao dólar e crise hídrica, que fez disparar o preço das contas de luz.
A inflação castigou de maneira mais intensa a população pobre. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que abrange as famílias com rendimentos de 1 a 5 salários mínimos ficou em 10,16%, acima da inflação oficial.
10 itens com maior impacto na inflação do ano:
Nas despesas com habitação, a maior pressão veio da energia elétrica (21,21%). Já o gás de botijão disparou 36,99%.
Nos alimentos, a variação de 7,94% foi menos intensa que a do ano anterior (14,09%), quando esta classe de despesas representou o maior impacto entre os grupos pesquisados. Entre as maiores altas no ano, destaque para café moído (50,24%) e açúcar refinado (47,87%).
O grupo dos vestuários, que tinha sido o único com queda no ano passado, fechou 2021 com a quarta maior variação (10,31%).
Já a inflação de serviços registrou alta de 4,75% em 2021, após variação de 1,73% em 2020, em meio a um cenário de corrosão da renda das famílias e de fraqueza da atividade econômica.
A região metropolitana de Curitiba (12,73%) foi a que teve a maior alta em 2021, enquanto que a menor inflação ocorreu na região metropolitana de Belém (8,10%). Em São Paulo e no Rio de Janeiro, as taxas foram de 9,59% e 8,58%, respectivamente.
O IPCA de 0,73% em dezembro ficou acima do esperado. A mediana das projeções de 35 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data era de um avanço de 0,65%.
Todos os grupos de produtos e serviços pesquisados tiveram alta em dezembro, com destaque para vestuário (2,06%), que acelerou em relação a novembro (0,95%).
Já o maior impacto (0,17 p.p) no IPCA do mês veio de “Alimentação e bebidas” (0,84%). O IBGE destacou as altas nos preços do café moído (8,24%), das frutas (8,60%) e das carnes, que subiram 1,38% em dezembro após uma queda de 1,38% em novembro.
Já no grupo “Transportes” houve desaceleração (de 3,35% para 0,58%), explicada principalmente pelo recuo no preço dos combustíveis (-0,94%).
O BC já tinha admitido em setembro, que a meta de inflação não seria cumprida em 2021. Com o estouro da meta, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, terá que escrever uma carta ao ministro da Economia, Paulo Guedes, explicando os motivos de o objetivo não ter sido cumprido.
A última vez em que isso aconteceu foi em 2017, porém naquela ocasião, O BC teve de explicar por que a inflação terminou o ano abaixo do piso da meta, e não acima.
A previsão do mercado para a inflação em 2022 está em 5,03%. Com isso, a expectativa é de estouro do teto do sistema de metas pelo segundo ano seguido. A meta central para o IPCA deste ano é de 3,50% e será oficialmente cumprida se o índice oscilar entre 2% e 5%.
A meta de inflação é fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Para alcançá-la, o Banco Central eleva ou reduz a taxa básica de juros da economia.
Atualmente, a taxa Selic está em 9,25% ao ano, maior patamar em mais de quatro anos. E a perspectiva do mercado é que ela termine o ano em 11,75% ao ano.
Para o economista-chefe do Opportunity Total, Marcelo Fonseca, o resultado de dezembro acima do esperado reforça o cenário extremamente desafiador para o Banco Central garantir a convergência da inflação de volta às metas em 2022 e sinaliza a necessidade de novas altas na Selic. “Acreditamos que o BC deverá elevar a taxa Selic novamente em 1,25pp na reunião do mês de fevereiro, encerrando o ano por volta de 12%”, destacou.
Em 2023, o objetivo central é de 3,25%, com um piso de 1,75% e um teto de 4,75% por conta do intervalo de tolerância existente.
*Reprodução: G1
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