Um dos fatos que mais marcaram minha infância e com certeza a vida de muitos pradenses foi um distúrbio ocorrido em plena Semana Santa de 1968. Naquele momento o Brasil vivia sob a ditadura militar, sendo que o acontecido envolveu a Polícia Militar, Exército, Mons. Assis, Bispo Diocesano, Prefeito, Delegado de Polícia e toda a comunidade Pradense, que então viveu momentos de terror.
Meu saudoso irmão, Antônio Ivan, falecido em 2021, servia ao Exército Brasileiro, tendo participado ativamente no episódio. Em conversa com ele, solicitei que colocasse no papel o que ele tinha vivido, e ele, como cronista já experiente em jornais da cidade de Ouro Branco, relatou brilhantemente esta história, que com certeza vai estarrecer quem não a conhece e vai trazer lembranças aos que viveram ou ouviram sobre ela.
Então estaremos trazendo nas próximas semanas a versão de nosso querido e saudoso Antônio Ivan sobre os fatos que tiraram a tranquilidade da pacata comunidade Pradense:
Na noite de quarta para quinta-feira da Semana Santa de 1968, ocorreu um incidente, que levou o Exército brasileiro, 11 RI, e a população ao enfrentamento com a polícia.
Tudo começou com um simples desrespeito de um condutor de veículo da cidade, a um impedimento mal feito em um acesso à parte baixa da cidade, passando pelo centro.
O condutor de um veículo, onde havia outras pessoas de seu relacionamento, pessoas inclusive mais idosas e logo com mais dificuldade de locomoção, ultrapassou o fechamento de rua, que não estava feito de forma a realmente parecer um impedimento, teria tentado chegar a sua residência, que ficava justamente na parte baixa da cidade passando pelo centro, que era exatamente o único acesso possível, ou seja via centro.
Este incidente seria alguma coisa bem pequena e até sem importância, não fosse a intransigência de um policial, cabo de polícia, que resolveu interceptar o veículo, cobrando do condutor motivos pela sua desobediência a interrupção do tráfico.
O motorista tentou justificar sua atitude alegando a deficiência da sinalização e a óbvia necessidade de chegar a sua residência com as pessoas que transportava.
Nesta época, o delegado local era indicado pela classe política, tratando-se de cidadãos ilustres e respeitados na cidade, não exigindo para isso nenhum conhecimento de segurança pública.
Logo os delegados quase sempre agiam para mediação dos conflitos levando em conta o cidadão, procurando com isso resolver os problemas sempre que possível, mas pela conciliação, quando tratando-se de gente conhecida e ordeira, sem se preocupar tanto com pequenos delitos facilmente releváveis.
Assim nesta ocasião, esta tarefa, muitas vezes mais penosas que prazerosas, cabia ao ilustre Antônio Eugênio, homem de atitudes calmas e contemplativas, pendendo sempre pela boa convivência, mais que por confrontos desnecessários em uma cidade ordeira e calma dos tempos de 1968.
Logo procurou ele resolver a situação com base em suas crenças uma vez que o assunto não merecia grande preocupação e que o cidadão deveria ser liberado e se colocasse um ponto final em algo que não merecia maiores cuidados.
Aconteceu, no entanto, que o policial, um cabo da polícia, que não sendo cidadão Pradense, logo não tendo a mesma visão do delegado não aceitou a decisão e quis dar ordem de prisão ao motorista juntamente com o veículo.
O delegado Antônio Eugênio quis fazer valer sua autoridade e decretou a liberação do motorista, procurando encerrar a celeuma desnecessária.
A atitude do policial acabou por inflamar a população presente que parecia levar o caso para alguma insurreição pública. Talvez não crescesse muito tudo aquilo não fosse a atitude de um policial presente. Sr. Abaeté, policial esse mais graduado que o então cabo e que estava em Prados, em casa de familiares, em convales
A atitude do policial acabou por inflamar a população presente que parecia levar o caso para alguma insurreição pública. Talvez não crescesse muito tudo aquilo não fosse a atitude de um policial presente. Sr. Abaeté, policial esse mais graduado que o então cabo que estava em Prados, em casa de familiares, em convalescênça de saúde, e que então comunicou ao batalhão de Barbacena 9º BI, unidade do cabo em questão, da possibilidade de rompimento da “ordem pública”.
Continua na próxima semana.
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