Com certeza, o gosto pelas histórias me foi transmitido pela minha saudosa mãe, contadora de muitas histórias, que as usava para nos transmitir grandes e nobres valores.
Esta belíssima e comovente história, me foi contada pelo meu irmão Irai, fazendo-nos relembrar de como nossa mãe valorizava o perdão.
Contando também com a colaboração valiosa da pena de nossa irmã caçula Meirinha, voltamos a relembrar o que ela dizia do perdão:
“ Perdão é o sentimento que mais nos aproxima de Deus”.
Um homem muito rico e poderoso, com muitas fazendas, milhares de cabeças de gado e centenas de empregados, embora tivesse sempre procurado ser justo, sentia que muitos de seus pecados poderiam impedir de que, quando morresse, chegar de cabeça erguida, diante do supremo Juiz. Com certeza, estes pecados não o deixariam alcançar o Paraíso. Mesmo tendo muita fé, achava que Deus lhe deu muito na Terra e que isto o atrapalharia chegar ao Céu.
Sabia que, para conseguir alcançar e manter todos aqueles bens, mesmo que involuntariamente, tinha prejudicado muitos, enganado outros, sido injusto com alguns , rude demais com os filhos e a esposa, que para ele era uma santa.
Mas o que mais lhe preocupava é que não conseguia perdoar, dificilmente perdoava, nunca se esquecia de uma ofensa, mas a grande mágoa era de um motorista de caminhão, que depois de dormir no volante, havia batido em sua caminhonete, matando sua amada esposa. Não havia como perdoá-lo, mesmo sabendo que o motorista, obrigado pelo patrão, estava dirigindo à três dias, pois não podia perder o emprego, sustento de sua família.
Perdoar jamais, perdão era para os santos ou somente para Deus. Tinha certeza que, os que dizem que perdoam é somente da boca para fora.
Com estas preocupações viveu uma longa vida, ficou viúvo cedo, criou os filhos, tendo todos, se formado, casado e tendo tido muitos netos e até um bisneto. Ele morava sozinho na fazenda grande, com seus empregados e suas lembranças, principalmente com aqueles pensamentos de como iria se apresentar perante o Juízo Final.
Com seus 85 anos, em uma manhã fria, o fazendeiro sofreu uma forte dor no peito e morreu, tendo sido encontrado por sua empregada, Maria, estirado na cama, do quarto de casal.
Todos os filhos, noras, genros, netos e bisneto, parentes, amigos e conhecidos compareceram para última despedida do grande fazendeiro, homem poderoso e respeitado, na região.
E ali, estava ele diante do Criador, no Juízo Final. Momento que ele sempre temeu, mas Deus, em sua infinita bondade, não se apresenta como um carrasco, mas sim como um Pai bondoso, que entende as fraquezas do ser humano. Ele, como justo Juiz, conhece todas as nossas mazelas, nossos medos e o que mais nos aflige.
Expôs ao Criador sua grande dificuldade de perdoar e disse que não acreditava no perdão sincero do ser humano. E Deus, cheio de perdão e misericórdia falou com todo o carinho:
Meu filho, o saber perdoar é o dom mais valioso que dei ao homem. Para te mostrar que ele existe e que muitos o praticam, vou te dar uma chance de alcançar o Céu. Você vai retornar a Terra, em uma pequena cidade do nordeste do Brasil, lugar de povo simples, trabalhador e de muita fé, vai observar a vida do açougueiro da cidade, Antônio. Quem sabe ele tem alguma coisa especial para te mostrar?
Um pouco incrédulo, mas obediente, o homem voltou a Terra, conforme lhe recomendou Deus.
Ao chegar à pequena cidade, ficou como simples mascate, observando a todos, mas principalmente o açougueiro, recomendado pelo Pai Celestial.
Nada via de especial nele, achando que nada teria a aprender, mesmo assim, começou a comprar alguns produtos, a conversar sobre coisas da vida, formando assim conhecimento e amizade com aquele homem, pelo jeito, muito querido por Deus.
Certo dia, o açougueiro o chamou para almoçar com ele, sabendo que ali naquela casa simples, vivia o casal e um filho.
Após a oração, qual não foi sua surpresa ao ver que o Sr Antônio levantou-se e foi ao quarto buscar um idoso, já alquebrado pelos anos, parecendo que tinha sofrido um derrame? Serviu-lhe a refeição, dando-lhe a comida na boca, limpando-o quando deixava cair algo, sempre com muita paciência e carinho. Logo depois, o ajudou a escovar os poucos dentes e o levou novamente ao quarto. Somente aí, sentou-se novamente para almoçar.
O fazendeiro que observou a tudo, calado e admirado com o carinho oferecido ao idoso, perguntou ao Sr Antônio:
– Este senhor a quem você dedica tanto carinho é o seu pai ?
O açougueiro, o olhou nos olhos e disse:
– Não! Meu pai foi morto, de forma cruel, por um ladrão. Este homem, que você viu, é o assassino do meu pai. Ele ficou preso durante 30 anos e cumpriu a sua pena. Quando saiu, ficou abandonado, passando fome e frio nas ruas. Resolvi então trazê-lo para minha casa e cuidar dele pelo resto de seus dias. Entendi que só o perdão libertaria a ele e a mim também, da mágoa que sentia.
A partir deste depoimento, o homem verificou a grandeza do coração daquele homem tão simples e lembrou-se da oração do “Pai Nosso”, que o próprio Cristo nos ensinou e que eles tinham rezado a pouco, que diz: “Perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”…
Nessa oração tão bonita, nós mesmos pedimos a Deus que nos perdoe, na mesma medida com que perdoamos. Que a gente nunca se esqueça disso.
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