DONA HIPÓLITA
A HEROINA ESQUECIDA DA INCONFIDÊNCIA MINEIRA
O presidente Lula (PT) sancionou a lei nº 15.086 de 03 de janeiro de 2025 que inscreve o nome da pradense Hipólita Jacinta Teixeira de Melo no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria. Ela foi a única mulher que participou ativamente da Inconfidência Mineira e é considerada uma das lideranças do movimento, ocorrido no fim do século XVIII contra o domínio português.
O livro, criado em 1992, tem páginas de aço e fica guardado no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, na Praça dos Três Poderes, em Brasília.
Pouca coisa sabemos desta ilustre heroína Pradense, para buscar algumas informações fomos nos escritos do ex-prefeito Paulo de Carvalho Vale, que em seu livro De Prados da “ Ponta do Morro” para a liberdade, nos traz valiosas informações sobre D. Hipolita.
“Hipólita Jacinta Teixeira de Melo nasceu em Prados-MG e foi batizada na Igreja Matriz de N. Senhora da Conceição, em 15/09/1748, cujo registro consta na folha 134 do 4º livro de Batismo da Paróquia de Prados, com o nome de Theodozia e refificado, posteriormente, para Hipólita, conforme nota colocada pelo vigário Manoel Martins de Carvalho à margem do assentamento acima referido. Era filha legítima do Capitão Pedro Teixeira de Carvalho, o Velho, e de Clara Maria de Mello. Era avós, pelo lado paterno, Gaspar Teixeira de Carvalho e Anastácia, portugueses, e , pelo lado materno, os também portugueses, Paulo de Melo Pereira e Mariana da Costa. Vivia com todo carinho e luxo na Fazenda da Ponta do Morro, em Prados, com seus pais, que lhe deram educação esmerada, contratando professores a peso de ouro. Dona Hipólita casou-se, depois, com o Coronel Francisco Antônio de Oliveira Lopes, nascido em Barbacena, em 23/11/1749. Portanto, era pouco mais de um ano mais velha que seu marido. O casal não teve filhos, mas Dª Hipólita criou, educou e, mais tarde, constituiu por herdeiro universal de todos os seus bens, o filho natural de Maria Silveira Bueno ( nascida em 1761 falecida em 1797 e irmã de Bárbara Eliodora ), Antônio Francisco ( batizado na Matriz de Prados em 03/01/1787), que havia sido abandonado na porta de sua fazenda. Mais tarde o Tenente General Antônio José Dias Coelho o reconheceu como seu filho, passando então, a assinar Antônio Francisco Teixeira Coelho. Por ironia do destino, este militar foi o mesmo que, encarregado pelo Visconde de Barbacena, prendeu Alvarenga Peixoto, entre outros inconfidentes. ) Dona Hipólita investiu na educação de seu filho adotivo ( sobrinho de Bárbara Eliodora e Alvarenga Peixoto), mas morreu antes de vê-lo ser chamado pelo povo, em demonstração de respeito de “ Barão “ da Ponta do Morro”, de ter sido agraciado com a comenda da Ordem da Rosa ( pelo Imperador ) e de ser escolhido deputado provincial à Assembléia Legislativa, nas legistaturas (4ª) de 1842/1843, (5ª) 1844/1845 e (6ª) 1846 e 1847. Além deste adotou também natural de Ana Umbelina das Chagas, exposto em sua casa. Quando D. Hipólita morreu, este menino tinha 12 anos. O “Barão” da Ponta do Morro continuou a educação deste seu “irmão de criação”, incentivando-o na sua vocação sacerdotal que, afinal, se concretizou, ordenado que foi padre em 1839. Padre Francisco Anunciação Teixeira Coelho foi deputado provincial na 15ª (1864/65) e 16ª (1866/67), Legislaturas , e vigário de Formiga, no oeste de Minas Gerais.
Dona Hipólita, mulher mais notável dentre as mulheres das Conjuração Mineira, a única a participar ativamente, de fato, deste movimento libertador, permanente incentivadora do marido, teve decretado o sequestro de todos os seus bens, mesmo aqueles de herança paterna, pelo Visconde de Barbacena, por ocasião da Devassa, não sendo respeitada a meação, alegando que a mesma “tivera uma efetiva participação na inconfidência”. Após longas pendências judiciais (que duraram até 1804), com a ajuda de amigos, de seu irmão, Dr. Gonçalo Teixeira, com diversos artifícios e maldosas artimanhas e ainda com a conivência do Ouvidor Luiz Ferreira de Araújo e Azevedo, conseguiu salvar e reaver quase todo seu patrimônio. A pedido dela, Dr. Gonçalo Teixeira de Carvalho, seu irmão e Capitão-Mor da Vila de São José , sucessor do pai no dito cargo e que respondia pela ordem pública no tempo da Inconfidência, partiu para o Rio de Janeiro, levando, dentro de um saco de açúcar preto, uma grande quantidade de ouro em pó, para arrematar “ em praça” os bens que la possuía e que foram confiscados pela Junta da Real Fazenda. No testamento do dito Capitão-Mor Dr. Gonçalo, falecido em 11/12/1812, em Prados, o mesmo declarou que deixava a sua mencionada irmã, em pagamento de vultosa dívida, uma casa residencial de 2 sobrados , na Rua do Rosário, com frente para a rua do Hospício, no Rio de Janeiro, provando que D. Hipólita recuperou também este patrimônio, até a morte de seu irmão, não constava como dela. Muito ilustrada, escreveu a carta denúncia contra-atacando e responsabilizando o delator Joaquim Silvério dos Reis e foi autora dos avisos sigilosos de que Tiradentes fora preso no Rio de Janeiro. Solicitou a seu compadre, Vitoriano Gonçalves Veloso, alfaiate que residia bem próximo à Gruta do Ouro, terras anexas à sua Fazenda, no local denominado Bichinho, que partisse imediatamente com estes bilhetes secretos, endereçados um a seu marido em Vila Rica (encontrando-o já de volta nas proximidades de Paraopeba) e o outro para avisar a Padre Toledo, vigário da Vila de São José , hoje Tiradentes, alcançando-o na fazenda do Mendanha, de propriedade do traidor Pamplona, em Lagoa Dourada. Dizia o bilhete na linguagem da época: “Dou-vos parte com certeza que se acham presos no Rio de Janeiro, Joaquim Silvério dos Reis e o Alferes Tiradentes para que vos sirva, ou se ponham em cautela , e quem não é capaz para as coisas, não se meta nelas; e mais vale morrer com honra que viver em desonra”, conforme denunciou , mais tarde o traidor Pamplona, na Inquirição em Vila Rica em 30.06.1789. Procurou , ainda, numa última tentativa para salvar os esforços da rebelião, àquela altura já fadada ao fracasso, por ter sido denunciada pelo traidor Silvério dos Reis, de enviar uma carta, através de seu amigo alfaiate, ao Coronel Francisco de Paula Freire, conclamando-o à reação e aconselhando-o a começar o levante lá do Serro. Dona Hipólita Teixeira foi, sem dúvida alguma, apesar de esquecida e não divulgada pela história, a verdadeira e única heroína do movimento inconfidente que, com coragem, efetiva participação e sofrendo a opressão, dos dominadores não deixou em momento algum de incentivar os envolvidos na Conjuração Mineira, acabando por perder o marido, que tanto amava, degredado perpetuamente que fora para terras longínquas da Africa. Hipólita foi, na trama da Conjuração Mineira, a manifestação política da mulher, fato raro e inusitado para a época. Custou-lhe caro a ousadia. Sofreu a perseguição dos dominadores. A repressão não a perdoou, embora tivesse evitado incluí-la no rol dos indiciados ou mesmo decretar a sua prisão. Era ligada por laço de parentesco com vários inconfidentes. Vitoriano Veloso era seu compadre e vizinho e a ajudou a queimar, prudentemente, todos os papeis comprometedores, quando soube pelo seu cunhado, o Pe José Lopes, que a revolução estava descoberta pelas autoridades. Segundo a tradição Pradense, desesperada, ao sentir que tudo estava perdido, ofereceu um cacho de bananas de ouro maciço a D. Maria I, Rainha de Portugal, com o intuito de alcançar da Coroa Portuguesa o perdão da pena que fora imposta a seu marido. O Visconde de Barbacena apoderou-se deste valioso presente, interceptando-o, não deixando, portanto que chegasse ao seu destino.
Dona Hipólita, mulher mais rica da região, em seu tempo fora madrinha de batismo na Frequesia de Prados, de muitas centenas de crianças, como consta dos livros antigos, deixando muito ouro para os pobres da Freguesia de Prados, conforme se verifica no seu testamento”.
“Aos 27 de abril de 1828, faleceu com todos os sacramentos, Dona Hipólita Jacinta Teixeira de Mello, viúva que ficou do falecido Coronel Francisco Antônio de Oliveira Lopes, de icterícia, e no dia 29 do mesmo mês, acompanhada do Reverendo Pároco e mais sacerdotes que se puderam ajuntar, com os quais todos se fez um ofício solene, segundo a disposição do seu testamento e foi sepultada nesta Matriz de Prados, na Capela-Mor; foi encomendada por mim e para constar, fiz este assento que assinei era ut supra. O Coadjutor João Rodrigues de Melo ( Fls 142v, Livro de Óbitos de Prados).
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