O Ponto de Partida levou a cabo o sentido de transformação por meio da arte. Não com pouco sacrifício, o grupo dá início às comemorações dos seus 35 anos de trajetória, ressignificando um espaço histórico de Barbacena.
A partir de hoje, a cidade natal do grupo terá um novo centro cultural, a Estação Ponto de Partida. Para a inauguração do espaço, a companhia preparou um fim de semana com atrações artísticas que conta com a presença de Milton Nascimento, Spok Frevo Orquestra e Cia. Navegante.
Em 1998, o Ponto de Partida deu início ao trabalho de restauração e revitalização de um conjunto arquitetônico que abrigou, desde 1912, uma sericícola, a segunda fábrica de seda do Brasil. Uma das mais sofisticadas das Américas, o lugar se transformou em uma estação de pesquisa, com adaptação de bichos da seda ao clima do país.
Mais do que uma fábrica, a história da sericícola conta momentos importantes da memória brasileira como, por exemplo, a imigração italiana para Minas Gerais, seduzida pela oportunidade de trabalho por volta de 1888. Remete também ao desenvolvimento industrial do início do século XX e ao princípio do trabalho feminino no país.
Com a introdução da seda artificial nos anos 70, a fábrica quebrou. Foi a leilão e, desde então, essa história e o conjunto arquitetônico passaram a viver de abandono e depredação. “Quando pensamos em fábricas, pensamos em grandes galpões. Mas o que temos aqui são grandes e belos casarões que viraram espaço de ninguém. Sem cuidados, as casas começaram a cair”, conta Regina Bertola, diretora do Ponto de Partida.
Há 17 anos, no entanto, o grupo, lançando suas preocupações para além do campo do teatro, ocupou um dos casarões do espaço. Mesmo sem permissão oficial, revitalizou a primeira edificação do conjunto. Do lugar, o grupo montou a Casa do Ponto e fez espaço para suas criações teatrais, ocupando também o cargo de guardião desse patrimônio.
Em seguida, veio o desejo de montar a Bituca: Universidade de Música Popular, instalada em 2004 na sede da companhia, enquanto seus membros se articulavam para poder cuidar de mais dois casarões do complexo. “A casa ao lado da nossa sede estava ocupada por uma marcenaria e por uma fábrica de placas de automóveis. Como estávamos perto, víamos que a casa não iria resistir ao período das chuvas. Foi quando começamos a pedir para termos a ‘guarda’ do espaço e, antes mesmo que a gente iniciasse o trabalho de recuperação, vimos o teto da casa desabar. Jamais vou esquecer essa imagem”, relembra Regina.
Certa vez, ficaram sabendo que um terceiro prédio do conjunto, que abrigava o DETRAN, havia sido desocupado porque o teto estava comprometido. “As pessoas já ficaram preocupadas. Lá vai a Regina querer mais um casarão para cuidar. Seria muita loucura porque nós já temos muitos projetos para manter. Mas não tinha como dar as costas e conseguimos autorização para restaurar a casa”, conta.
Com o novo espaço, o Ponto de Partida vai além do teatro e da música e passa agora a se aventurar no território das letras. Um dos prédios da antiga sericícola abrigará a Casa Palavra, um espaço para eventos literários, biblioteca, leituras dramáticas, lançamento de livros e ainda uma área de convivência. “Acho que agora nós passamos do limite”, brinca Regina. “Mas tínhamos poucas opções. Ou a gente assumia o lugar ou deixava esse patrimônio se perder em maus tratos. E a gente não podia perder o valor histórico e nem arquitetônico dessas edificações”, explica a diretora.
Não satisfeita, Regina e o grupo ainda desejavam fazer algo com os 5.000 metros de espaço aberto entre os casarões. Foi então que sugeriram ao Instituto Inhotim uma parceria que parece que deu certo. Sob orientação dos profissionais do museu, 35 jardineiros de Barbacena plantaram 20 mil mudas em 15 dias. “A gente viu a generosidade das pessoas que queriam dar vida a um espaço público da cidade. Esse é o forte da Estação. Esse espaço agregou pessoas de boa vontade. Elas vêm, observam e contribuem de alguma forma”, comenta Regina.
Foto e informações: O Tempo
Publicado em 21/08/2015 às 10:46
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