No último dia 11 de outubro celebramos os 50 anos de abertura do 25º Concílio Ecumênico realizado na Igreja. Este Concílio foi convocado pelo grande papa João XXIII, “o papa bom”, que tinha a intenção de colocar a Igreja em dia com os tempos. A palavra de ordem era aggiornamento. Aquele que fora eleito para se tornar “um papa de transição” tornou-se o “papa da transição”. Ângelo Roncalli, era esse o nome de batismo do papa bom, era um homem bem humorado e aberto ao mundo. Para nós que cremos o Concílio foi um sopro do Espírito de Deus que faz novas todas as coisas. Para celebrarmos bem esta data o Santo Padre o Papa Bento XVI, através da carta apóstólica Porta Fidei (Porta da fé), proclamou o ANO DA FÉ que além de recordar os 50 anos do Concílio e os vinte anos da publicação do Catecismo da Igreja Católica, nos leva a refletir sobre a “profunda crise de fé” que atinge a humanidade e a redescobrir a beleza da fé católica condensada no Credo.
Via de regra os Concílios são convocados mediante alguma controvérsia teológica, também chamada de Heresia. O vaticano II, porém, foi uma exceção. Chamado de 2ª primavera da Igreja o Vaticano II foi um Concílio de cunho PASTORAL E ECUMÊNICO. Ao contrário dos demais concílios não havia nenhuma dissenção teológica que justificasse sua convocação. Assim, a Igreja se abre ao diálogo em um círculo que vai se ampliando: com as Igrejas orientais, separadas de Roma desde 1054; com as outras denominações cristãs surgidas da chamada “reforma protestante”; com aqueles que não são cristãos, ou seja, com outras religiões, como budismo, Islamismo e outras. Mesmo os não crentes não deveriam ser desprezados mais chamados ao diálogo no amor. Assim o Concílio abriu as portas da Igreja para o mundo.
A obra mais sensível do Vaticano II foi a chamada reforma litúrgica. A Missa que era celebrada Versus Deum, isto é, o padre de frente para o altar e de costas para o povo passa a ser presidida pelo padre de frente para a assembléia. A assembléia deixa de ser expectadora para ser parte na celebração. O padre preside, mas todos celebram. Aqueles que antes “assistiam” a missa, são chamados a participar: “que os cristãos não entrem neste mistério de fé como estranhos ou espectadores mudos, mas participem na acção sagrada, consciente, activa e piedosamente, por meio duma boa compreensão dos ritos e orações; sejam instruídos pela palavra de Deus; alimentem-se à mesa do Corpo do Senhor”. SC nº 48 Afim de favorecer esta participação ativa a Missa deixou de ser rezada em Latim, lingua oficial da Igreja, e passou a ser celebrada em vernáculo, ou seja, na língua de cada povo. A reforma litúrgica foi, sem sombra de dúvida, a obra mais palpável e emblemática do Concílio, porém, outras conquistas foram feitas: o ecumenismo, o diálogo com o mundo, o protagonismo dos leigos (as), a nova conceção de Igreja que passa a se conceber como POVO DE DEUS. Desse modo a Igreja não é mais composta somente pela hierarquia, mas é a totalidade daqueles que foram incorporados a Cristo pelo sacramento do batismo.
O Vaticano II produziu dezesseis importantes documentos: quatro constituições, nove decretos e três declarações. São elas: Dei Verbum sobre a Revelação divina e Tradição, Lumem Gentium sobre a Igreja, Gaudium et Spes sobre a Pastoral e a relação da Igreja com o mundo moderno, Sacrossanctum Concilium sobre a Liturgia. Os Decretos são os que seguem: Ad Gentes sobre a atividade missionária, Apostolicam Actuositatem sobre o apostolado dos leigos, Christus Dominus sobre os Bispos, Inter Mirifica sobre a comunicação social, Optatam Totius sobre a formação sacerdotal, Orientalium Eclesiarum sobre as Igrejas orientais católicas, Perfectae Caritatis sobre a renovação da vida consagrada, Presbiterorum Ordinis sobre a vida dos presbíteros e Unitatis Redintegratio sobre o ecumenismo. Por fim as três declarações são: Dignitatis Humanae sobre a liberdade religiosa, Gravissimum Educationis sobre a educação cristã e Nostra Aetate sobre a relação com os não-cristãos.
Neste ano significativo é preciso retomar os textos do Concílio. No processo de implantação do Concílio tivemos idas e vidas. Há aqueles que quiseram ir além do Concílio e cometeram rupturas e abusos, como também aqueles que, saudositas, ainda hoje, resistem aos ventos do Concílio, sopro do Espírito. A recepção do Vaticano II, de fato, foi um processo doloroso. Não é fácil abrir-se ao novo, é mais fácil permanecer instalado naquilo que já se conhece. Mais repito é preciso voltar às fontes retomar os textos do Concílio e sentir o espírito do mesmo que é de renovação eclesial. Concluo com as palavras do Bem aventurado João Paulo II, citadas na carta apostólica Porta Fidei: “Sinto hoje ainda mais intensamente o dever de indicar o Concílio como a grande graça de que beneficiou a Igreja no século XX: nele se encontra uma bússola segura para nos orientar no caminho do século que começa”. E ainda com a recomendação do Papa Bento XVI: “Se o lermos e recebermos guiados por uma justa hermenêutica, o Concílio pode ser e tornar-se cada vez mais uma grande força para a renovação sempre necessária da Igreja”.
Pe. Dirceu de Oliveira Medeiros – Vigário Geral da Diocese de São João Del Rei
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