“O meu Pai trabalha sempre e eu também trabalho”. Jo. 5, 17 Essas são palavras de Jesus no Evangelho. Deus criador, ao criar todas as coisas, trabalhou e usufruiu o direito de contemplar a obra de suas mãos e de constatar que “tudo era muito bom”. O Filho de Deus também realizou uma obra admirável ao implantar o Reino de Deus e nos salvar. Uma vez que somos imagem e semelhança de Deus, podemos dizer que o trabalho tem algo de divino e é também parte constitutiva de nossa vida.
Segundo a encíclica Laborem Exercens, o trabalho possui dois sentidos: um subjetivo e outro objetivo. O sentido objetivo toca à questão da sobrevivência e o subjetivo expressa uma dimensão intrínseca do ser humano que é homo faber. Em outras palavras, o trabalho é, ou deveria ser, simultaneamente, fonte de realização humana e garantia de vida digna para todos aqueles que trabalham e para os seus. No tocante à dimensão subjetiva ou realizadora do trabalho é fundamental fazer o que se gosta. Nas primeiras páginas da bíblia, depois do pecado de Adão e Eva, o trabalho emerge como um castigo. Assim lemos: “..maldito é o solo por causa de ti! Com sofrimento dele te nutrirás”. Gn 3, 17 Para que o trabalho seja fonte de prazer e não um fardo é indispensável que cada um descubra sua vocação, a sua aptidão. A já mencionada encíclica papal adverte sobre a ameaça a uma hierarquia de valores, uma vez que o trabalho não é simples “mercadoria” que o trabalhador vende, mas antes participação do ser humano na obra do criador. O “trabalho é para homem” e não “o homem para o trabalho” diz a Laborem Exercens. Desse modo, o homem não pode ser tratado como mero instrumento de produção, mas como sujeito e artífice.
À luz da Doutrina Social da Igreja podemos afirmar que muitas sombras existem ainda no mundo do trabalho, tais como a exploração, o sub-emprego, as condições degradantes de trabalho, o trabalho infantil, o trabalho escravo. Também à luz da doutrina social da Igreja é mister lembrar que a relação empregado e empregador deve ser marcada não pela dominação de um e a submissão de outro, mas pela justiça. Esta relação é perpassada por direitos e deveres. Ambos têm direitos e deveres e um dos problemas mais candentes nesta relação é a questão do justo salário ou da justa remuneração. Há hoje também, na pauta do dia, um debate sobre a flexibilização das leis trabalhistas. Muitos argumentam que tal flexibilização provocaria um crescimento na oferta de empregos. A questão que se coloca é: a perda de alguns direitos trabalhistas não deixaria o trabalhador ainda em situação mais vulnerável? Os sindicatos e a sociedade civil organizada devem aprofundar o tema e se colocar na defesa de seus direitos.
Por fim, outro dia viajando e observando uma estrada recém asfaltada me ocorreu a seguinte reflexão: quem participou da construção dessa rodovia, dessas pontes, deveria se sentir realizado, afinal, existe um sentido nobre e sublime na obra humana. O progresso, a aproximação das pessoas, o conforto, o fato de ter participado de um grande empreendimento elevam o ser humano. O ser humano é capaz de grandes coisas, é capaz do melhor e do pior. Por isso, ao celebrarmos o dia do trabalhador, precisamos desenvolver uma espiritualidade do trabalho que nos leve a ver que o ser humano é aquele que participa, mediante o seu trabalho, da obra do criador. Pelo seu trabalho, de certa forma, “aperfeiçoa” a obra do criador e contribui para o desenvolvimento dos povos e da família humana. O desafio é enxergar o trabalho com os olhos da fé e descobrir o lugar que o mesmo ocupa na história da salvação.
Pe. Dirceu de Oliveira Medeiros
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