Abrir uma cerveja, acender um cigarro, comer um docinho são alguns dos hábitos ficaram mais frequentes na rotina dos brasileiros como forma de relaxamento diante do cenário de pandemia desde meados de março. O isolamento social afastou as pessoas, mas estreitou a relação de cerca de 18% da população com o álcool, que agora tem consumo quase diário durante a quarentena. O dado é resultado do projeto “ConVid – Pesquisa de Comportamento”, realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em parceria com a UFMG e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
“É a virada de chave pra mim, é como se eu virasse a chave da casa/trabalho para a casa/lar”, analisa o programador Caio Bigode, de 24 anos, que conta ter aumentado a frequência do consumo de bebidas alcóolicas e cigarros em casa durante o isolamento. Embora tenha percebido uma maior frequência, ele conta que bebe menos de cada vez, já que era nos encontros com os amigos aos finais de semana que costumava consumir bebidas alcóolicas em maior quantidade.
A professora Cynthia Monteiro, de 26 anos, experimenta a mesma mudança desde que interrompeu as aulas na educação infantil por conta da pandemia, mas não teve a possibilidade de trabalhar em casa. “Por ser essa situação em que não precisamos estar disponíveis de segunda a sexta para trabalhar, acaba trazendo essa possibilidade de beber quando e onde quiser”, explica. Cynthia foi passar o isolamento em Sete Lagoas, com os pais, e o hábito de consumir álcool com mais frequência se estendeu por toda a família durante um tempo.
O estudo da Fiocruz entrevistou, entre 24 de abril a 8 de maio, 44.062 pessoas de idades variadas. O maior aumento (26%) no uso de bebidas alcoólicas ocorreu entre as pessoas de 30 a 39 anos de idade, e o menor (11%), entre os idosos.
O consumo de cigarro também aumentou na quarentena, conforme o levantamento. Entre os fumantes, que são 12% dos entrevistados, quase 23% aumentaram cerca de dez cigarros por dia, enquanto 5% passaram a usar mais de 20 cigarros por dia. Bigode, que fumava apenas quando frequentava bares aos fins de semana, passou a consumir cigarros de palha em casa, durante o trabalho. “Como a gente fica muito sozinho, acaba virando um mecanismo pra hora passar mais rápido”, acredita.
Doces
Outro dado revelado pelo estudo aponta o aumento no consumo de alimentos menos saudáveis durante a pandemia, especialmente os doces. O percentual de consumo de alimentos não saudáveis em dois dias ou mais por semana aumentou 5%, para os embutidos e hambúrgueres; 4% para os congelados; e 6% para os chocolates e doces.
A maior diminuição na alimentação saudável ocorreu no consumo de verduras/legumes em cinco dias ou mais por semana. Antes, 37% das pessoas comiam frutas e verduras regularmente, e esse índice passou a ser de 33% após o começo da pandemia. O consumo de frutas, legumes e verduras em cinco dias ou mais por semana foi de apenas 13% entre os adultos jovens (18-29 anos); e na população de baixa renda, de 16%.
Ainda conforme o estudo, quase metade das mulheres está comendo chocolates e doces em dois dias ou mais por semana durante a pandemia, representando um aumento de 7% em relação ao consumo antes da quarentena. Entre os adultos jovens, na faixa etária de 18 a 29 anos, 63% estão consumindo chocolates e doces em dois dias ou mais por semana.
“Destacamos que os alimentos comprados e ultraprocessados têm alto teor de sódio, de gordura, de açúcar e devem ser evitados. Temos que ter uma alimentação mais equilibrada, especialmente neste momento em que as pessoas estão praticando menos atividade física”, aconselha Deborah Carvalho Malta, professora da Escola de Enfermagem da UFMG e uma das coordenadoras da pesquisa
Atividade física
Além da alimentação nada balanceada, a falta de atividades físicas é outro fator que vem se elevando entre os isolados pela pandemia. O estudo apontou que 62% deles não estão praticando exercícios. Entre as pessoas que faziam atividade física de três a quatro dias por semana, 46% deixaram de praticar; e entre as que se exercitavam cinco dias ou mais por semana, 33% deixaram de fazê-lo durante a pandemia.
“As pessoas passam muito tempo em frente às telas, em frente ao computador. Esses hábitos sedentários são muito deletérios, tanto para o aumento de peso e o excesso da obesidade quanto também para repercussão de doenças cardiovasculares”, explicou a professora Deborah Carvalho Malta.
A professora Cynthia Monteiro conta que tentou continuar a rotina de exercícios em casa, mas acabou não se adaptando. “Eu tentei bastante, mas para mim não funcionou, todas as tentativas foram frustrantes, porque eu percebo que a academia me dá um gás, uma excitação a mais do que o exercício em casa, é um hábito que se perdeu”, lamenta.
*O Tempo
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