Quando criança ouvi esta história de minha saudosa mãe, inclusive sabendo que ela teria socorrido um acidentado, afirmando que nas condições que o cavaleiro chegou foi um milagre ele sobreviver. Muitos anos após, tive a oportunidade de ver o quadro sobre o milagre na Igreja da Santíssima Trindade na cidade de Tiradentes, mas não tinha detalhes do caso.
Qual não foi minha surpresa, quando em visita ao Museu Marieta Teixeira de Oliveira, que tem como responsável o incansável Ivacir Lopes de Oliveira (Ratinho), em uma publicação alusiva aos 300 anos de Prados, que teve como organizador o Ex-prefeito Paulo Vale, deparei com o texto abaixo, escrito pelo próprio Paulino Emídio Possa, nos brindando com o relato de todo o ocorrido.
No dia 15 de outubro de 1951, saí da cidade, a cavalo, com destino ao “Bichinho”, para buscar uma tropa de animais. Ao meio-dia, quando descia pela cava do “Deserto”, o cavalo se espantou com algumas toras de madeira, de tom amarelado, que se achavam ao lado da estrada. Devido à coloração e ao formato das toras, à primeira vista, tinha-se a impressão de que era uma onça.
O animal instintivamente se negou a passar. Usei, então, as esporas, para força-lo a prosseguir. Ele começou a pular, com medo. Quando assustei, o arreio estava virando. Segurei-o para pular, mas foi tarde, pois meu pé ficou preso no estribo. O cavalo desceu a cava me arrastando e dando seguidos coices. Ao se aproximar a entrada de outra cava maior, onde eu sabia, havia enormes pedras, temi pela minha vida. Se batesse a cabeça numa daquelas pedras, estaria fatalmente morto. Ai, gritei pela Santíssima Trindade.
Que ela me valesse! O animal parou de repente, com as patas dianteiras levantadas. Olhei para a frente e percebi uma nuvem de fumaça. Senti que fui socorrido pelo nome que invoquei. Um milagre acabara de acontecer. Meu cavalo tomou, então a direção de um pasto, descendo-o. Caminhou até um brejo, onde havia uma moita de capim conhecido como “rabo de burro” e nela segurei, conseguindo parar o cavalo, que perdeu o equilíbrio. Livrei a perna que estava presa no estribo e subi, novamente, até a estrada, tomando a direção da casa do Sr. Antônio Eugênio.
Quando lá cheguei, gritei por sua esposa, D. Igné, pedindo-lhe que não se assustasse com o meu estado. Embora eu estivesse bastante machucado, não queria que ela soubesse. Falei-lhe que estava, apenas com as roupas sujas e rasgadas. Ela se aproximou de mim, trazendo água quente, açúcar, sal e manteiga. Tomei a mistura e senti que vivi novamente.
Ela chamou o cunhado para que tomasse conta do cavalo e, assim, eu pudesse vir embora. Aqui chegando, pedi a meu pai que se dirigisse para aquele local e buscasse o animal. Que estava no pasto, e o arreio que havia ficado no brejo, perto de uma moita de capim.
Assim ele fez, Quando retornou à nossa casa, pude observar que estava muito assustado, dizendo-me que não viu qualquer moita no local. Insisti com ele que havia a moita, sim. Percebendo minha insistência, meu pai concluiu que, então, isto só poderia ser a continuação do milagre.
Após o ocorrido, tive que permanecer em casa, de repouso, para me tratar dos ferimentos, durante 3 meses. Assim que me restabeleci, procurei o Sr. Adalberto Vale, meu amigo particular, para registrar, em gravura, o acontecimento, o que, prontamente, ele se dispôs a fazer. O quadro foi levado como meu voto, manifestando minha eterna gratidão pela graça alcançada, para a Igreja de Santíssima Trindade, em Tiradentes. Mais tarde, a gravura foi reproduzida em escala maior, tendo sido afixada na lateral esquerda daquela Igreja.
Paulino Emídio Possa
*O conteúdo desta coluna é de exclusiva responsabilidade de seu autor. As colunas são um campo aberto para os seus autores, e quaisquer opiniões nelas, não é uma opinião do Prados Online.
Prados Online
2012 Prados Online | cnpj: 15.652.626/0001-50