Antigamente, ligava-se necessariamente o Carnaval com o Entrudo, ou melhor, entrudo e carnaval eram a mesma coisa. Muita gente, ou saía da Cidade ou fechava suas portas e janelas, nos dias de Entrudo.
Aqueles que brincavam de ‘entrudo”, fantasiavam-se e se armavam de seringas, copos, baldes, regadores, enfim, de qualquer vaso que servisse para apanhar água, e iam jogando nas pessoas que passavam pelas ruas. Era uma verdadeira batalha. Muitas e muitas vezes, um cidadão descuidado recebia um jarro de água (tomando um banho), ao passar por debaixo de uma janela. Além de água, usavam também farinha para jogarem uns aos outros. As pessoas mais educadas usavam “água de cheiro”, a princípio em seringas, surgindo depois os “limões de cheiro” que eram atirados nos amigos.
Vieram depois as batalhas de “confetes” e “serpentinas”, o “lança-perfume” com os mascarados e os fantasiados, com fantasias humorísticas e grotescas, alguns, e outros com fantasias luxuosas.
Sabe-se que são bem antigas as folias de Carnaval, em Prados. Já em 1907, o nosso conterrâneo já falecido – José Patrício de Assis (Juca Patrício),
então menino de 12 para 13 anos, ilustrou em um jornalzinho manuscrito, por ele criado, editado e destinado à petizada de Prados, a cena de um folião, fantasiado, brincando de Carnaval na Avenida Dr. Magalhães Gomes.
Terminando o desfile de blocos nas ruas, o Carnaval entra para os salões dos Clubes, onde se organizam “cordões”, isto é, todos de mãos dadas, pulando no ritmo da música e cantando canções apropriadas aos festejos de “Momo”. A orquestra, quase não para. No auge da folia, aqueles mais identificados com os folguedos, vão arrastando para os cordões os mais retraídos, e daí a pouco ficam todos contagiados pelas alegrias do Carnaval.
Como é óbvio, nunca faltam as bebidas alcoólicas e refrigerantes, tanto nas mesas como nas mãos dos foliões.
Ao que nos parece, naqueles tempos antigos, o Carnaval em Prados não era considerado uma festa pagã, como nos dias de hoje.
“Passadas as festas religiosas que terminaram cerca de quatro horas da tarde, sairam a movimentar as ruas e praças da Cidade, belos grupos de fantasias carnavalescas, que encerravam sempre os folguedos em casa do Dr. Patrício, onde havia dança. Na tarde de terça feira, porém, a animação tocou o auge. Aos grupos já organizados, reuniram-se então, muitas e vistosas fantasias e um interessante conjunto de grotescos menestréis, que executavam os seus violinos, guitarras e violões, trechos afinados da maior popularidade. À noite toda aquela gente que formigava nas ruas, enchia a residência do Dr. Odilon Andrade, e, aí se divertiam de mil modos até hora avançada, na maior harmonia e satisfação. “Confette e serpentina, lança-perfumes e “tutti quanti” tiveram também o seu reinado no Reino da Folia,” Assim foi como noticiou, em 24.02.1917, o nosso periódico “Correio de Prados”, as festas da semana, de domingo a quarta-feira.
Nos anos subsequentes, os nossos foliões têm sempre preparado os festejos à altura das exigências do povo de Prados. Em 1920, por exemplo, estava programado um magnífico préstito, tendo à frente mil e um foliões, vindo depois a Banda de Fanfarras. Desfilaram depois os seguintes carros alegóricos, pela ordem: – o “Desejado Momo” (alegorias); “Os provisórios melhoramentos municipais(crítica); o carro-chefe – “O Triunfo do Tempo” (alegoria); “A Febre de Casamentos” (crítica);
“No Templo da Fantasia” (alegoria) e “Morte à tristeza” (crítica). Já em Fevereiro de 1934, o Carnaval contou com seis Blocos animados: “Gato Preto” (Bloco do Clube Pradense); “Periquitos”; “União”; “Prazer das Morenas” (este era do bairro de Pinheiro Chagas); “Repentinos” e “Rancho das Borboletas” (estes dois últimos integrados apenas, respectivamente, por meninos e meninas).
Naqueles tempos mais antigos, o João Batista da Silva (João Tianinha) era o folião mais entusiasmado e o grande animador e orientador dos Blocos Carnavalescos. A alegria reinava, de fato, nos Carnavais, sob o influxo do bom humor contagiante do sempre jovial “Tianinha”. Dizia ele que, no Carnaval do tempo de sua mocidade, não faltava em Prados, o perigoso entrudo, com os limões de cheiro, jarras e bacias d’água. Últimamente vimos notando que o Carnaval de Prados sofre uma certa influência do Rio de Janeiro, quando nossos blocos e escolas de samba procuram disputar o melhor desfile. O Carnaval contemporâneo é prestigiado por muita gente que vem das cidades vizinhas. Também muitos conterrâneos nossos, que moram fora, têm escolhido os dias dos festejos de Momo para deles participarem com os nossos foliões que aqui residem.
Fonte: Vale, Dario Cardoso. Memória Histórica de Prados, Belo Horizonte, 1984.
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