Ut Unum Sint

Que todos sejam um! Esta é a tradução do título deste artigo é também o título de uma carta encíclica do papa João Paulo II sobre ecumenismo. Trata-se de uma citação bíblica extraída do evangelho de São João 17, 21. Esta citação expressa o desejo de Jesus, que os cristãos, seus seguidores busquem a unidade. A busca da unidade entre as igrejas cristãs é tarefa do movimento ecumênico. O ecumenismo ganhou novo impulso a partir do Concílio Vaticano II. (1962-1965) Optei por escrever sobre este tema levando em conta a festa de Pentecostes, que é a vinda do Espírito Santo e a Semana de oração pela unidade dos cristãos. Tomemos uma metáfora: a túnica inconsútil de Cristo. João diz: “lançaram sorte sobre a minha túnica” Jo. 19,24 Os soldados não rasgaram a túnica de Cristo, pois esta era inconsútil, ou seja, sem costura, toda tecida de alto a baixo. A túnica de Cristo representa a unidade da Igreja que foi desfeita. Dois marcos assinalam a cisão.

Em 1054 se dá a primeira ruptura entre orientais e ocidentais, até então a Igreja vivia em unidade. O leitmotiv da divisão, do ponto de vista teológico, foi a questão filioque. Os orientais acreditavam que o Espírito, a terceira pessoa da Trindade procedia somente do Pai chamado mistério fontal, ao passo que os ocidentais asseveravam que o Espírito Santo procedia do Pai e do Filho. Certamente outras motivações de natureza política, econômica motivaram tal cisma. Talvez tenha faltado abertura ao diálogo de ambos os lados.

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O segundo cisma se deu em 1517 com a reforma empreendida por Martinho Lutero. A Igreja vivia um contexto difícil, aconteciam alguns desvios na Igreja, sobretudo no tocante às indulgências. Lutero defendia três princípios básicos: sola fidei, sola scriptura, sola gratia. Ao defender tais princípios, ele, de certa forma rejeitava algumas convicções católicas: a de que a salvação se alcança pelas obras, ele rejeitava a mediação do magistério e a tradição da Igreja.

Com o passar do tempo foi crescendo na Igreja a consciência de que nossas divisões constituem um escândalo para o mundo, um verdadeiro contra testemunho. Assim nasceu o movimento ecumênico, na busca da unidade. João XXIII, o “papa bom” já ensinava in nillo tempore “o que nos une é maior do que o que nos separa”. Por isso a proposta do ecumenismo consiste exatamente na busca daquilo que é comum e no respeito à diversidade. A partir do Concílio Vaticano II a Igreja abandonou uma postura apologética, onde se afirmava ser a Igreja a única detentora da verdade, para uma postura de diálogo, com os cristãos, com os não cristãos, com os ateus, com o mundo.

Muitos confundem o que é ecumenismo, por isso esclarecemos o que não é ecumenismo. Mistura de tudo num novo cristianismo não é disfarce para uma Igreja dominar a outro, não é algo que afaste a pessoa da sua própria Igreja, não é fazer todos concordarem em tudo, não é fingir que as diferenças não existem, não é desvalorizar as normas de cada Igreja, não é deixar de lado o espírito crítico diante de qualquer grupo cristão.

Para fomentar o ecumenismo é preciso cultivar algumas atitudes básicas: diálogo que reconhece e respeita a diversidade, valorização de tudo que já une as Igrejas, trabalho conjunto na construção de um mundo melhor, criação de laços de afeto fraterno entre as Igrejas, oração em comum a partir da fé básica, busca sincera de caminhos para curar as feridas da separação, valorização leal de tudo de bom que as diferentes denominações cristãs realizam.

Enfim, vale uma analogia! O ecumenismo começa dentro de casa. A mãe, que tem muitos filhos, sabe que cada um é um, que eles são diferentes, assim como os dedos das mãos não são iguais. A mãe não exige uniformidade de seus filhos, sabe respeitar suas diferenças. Aprendamos com as mães! O ecumenismo começa dentro de casa! Ut Unum Sint!

 

Pe. Dirceu de Oliveira Medeiros

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