O fantástico aconteceu durante obras de restauração, em Congonhas. Todos os indícios levam a crer que as ferramentas pertenciam ao ateliê do português Francisco Vieira Servas (1720-1811), um grande entalhador do século 18.
Uma verruma (instrumento de furação que lembra a pua) e dois macetes (martelos de madeira) foram descobertos na Matriz de Nossa Senhora da Conceição, em Congonhas, durante as obras de restauração do PAC Cidades Históricas. As peças foram encontradas sem o menor indício de violação, durante a remoção do envelopamento do Arco do Cruzeiro, que é atribuído a Francisco Vieira Servas. Os dois malhos no entablamento estavam ao lado do Evangelho (à esquerda do expectador) e a verruma ao lado da Epístola (à direita do expectador).
Restaurador aponta onde encontrou as peças
Contemporâneo de Antônio Francisco Lisboa (Aleijadinho), o português chegou a ganhar uma concorrência do grande mestre do barroco para os altares da Igreja do Carmo, de Sabará.
O artista deixou um legado, constituído por um valioso conjunto de retábulos e esculturas de alta qualidade artística, que se insere de forma significativa no cenário da arte religiosa mineira. Especializou-se em imaginária e ornatos, como anjos, santos, rocalhas e elementos forais. A exemplo do Arco do Cruzeiro, o Altar Mor da Matriz de Nossa Senhora da Conceição é atribuído a Servas por especialistas no Barroco Mineiro.
Além da Matriz, a Basílica do Senhor Bom Jesus de Matozinhos também está em processo de restauração pelo PAC Cidades Históricas, e possui obras de Servas, que atuou por muitos anos em diversas igrejas de Minas Gerais.
Os achados
As ferramentas encontradas no interior do arco do cruzeiro da matriz de N. Sra. da Conceição são instrumentos fabricados especialmente pelos oficiais de carpintaria e marcenaria. No caso da verruma (utensílio de ferro que termina numa espécie de espiral, utilizado para abrir furos na madeira) o oficial responsável pela sua confecção foi um ferreiro. O interessante desse achado é que não é muito usual se encontrar ferramentas durante os trabalhos de restauração. Parece que algum oficial esqueceu as ferramentas dentro do arco do cruzeiro após o término dos serviços.
O estudioso do barroco mineiro e restaurador Adriano Ramos, foi convidado para avaliar as peças encontradas. Para ele, ao que tudo indica, os objetos encontrados eram da equipe de Francisco Vieira Servas, mesmo não havendo documentação comprobatória sobre a sua presença na obra, (os trabalhos foram contratados junto ao carpinteiro Francisco Machado da Luz em 1764). Contudo, por meio de análises comparativas foi possível detectar a presença de Servas tanto no Retábulo-Mor quanto no Arco do Cruzeiro.
Informações: Fato Real
Publicado em 28/12/2016 às 10:52
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