Ainda que várias prefeituras tenham decretado o cancelamento dos eventos no período de carnaval, a explosão dos casos e mortes de coronavírus no Triângulo e no Alto Paranaíba ligam o sinal de alerta em Minas Gerais e levam as autoridades a repensar os protocolos de prevenção à doença, com medidas mais restritivas, que vão de suspensão de serviços presenciais a lei seca. Vários municípios estão com a ocupação de leitos próximos do colapso e já pedem ajuda ao governo do estado ou mesmo a outros prefeitos, cujas cidades ainda têm capacidade de receber pacientes. Ontem, o governador Romeu Zema (Novo) aproveitou a videoconferência dos chefes dos Executivos estaduais com o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, para pedir ajuda ao Palácio do Planalto, enquanto a Secretaria de Estado de Saúde acena com a abertura de 18 leitos em Uberlândia.
Ao Estado de Minas, Zema disse que, embora tenha solicitado apoio da União, o estado tem conseguido dar conta da demanda de pacientes. O pouco fôlego, contudo, tem causado “estresse” à rede de atendimento. “Foi solicitado um apoio, mas até o momento não tivemos retorno. Estamos nos desdobrando para fazer o possível, transferindo pacientes e reforçando o quadro de profissionais”, garantiu. A ideia do governo estadual é conseguir fazer o sistema de saúde respirar ante a aceleração de casos instalada em cidades como Araxá e Coromandel. “Estamos conseguindo atender as pessoas que precisam, mas em nível elevado de estresse. É sempre bom trabalhar com mais segurança”, completou.
Com população de cerca de 28 mil pessoas, Coromandel viveu nos últimos dias um aumento expressivo de infectados e óbitos e precisou transferir 15 enfermos para Pará de Minas, Divinópolis e Formiga, na Região Centro-Oeste (leia mais nesta página). Nos últimos 30 dias, o município do Alto Paranaíba praticamente triplicou o número de casos, que chegaram a 1.136 no último boletim da prefeitura, 550 deles ativos e registrou 14 mortes por COVID-19, elevando para 31 o total. Uma força-tarefa do governo foi enviada à cidade para ver a capacidade do sistema de saúde e organizar o fluxo de pacientes.
O prefeito Fernando Breno (Patriotas) decretou estado de calamidade pública e pediu ajuda à União na busca por novos leitos de terapia intensiva (UTI). Durante o carnaval, a prefeitura proibiu circulação de pessoas depois das 20h para evitar aglomeração e o contágio pela doença. “Passamos todo o fim de semana em contato com a Presidência da República e com a Secretaria de Estado de Saúde. Precisamos de, no mínimo, quatro médicos, quatro enfermeiros e 10 técnicos de enfermagem para compor as nossas equipes de UTI”, afirmou o chefe do Executivo.
Araxá, por sua vez, tem 15 dos 16 leitos de UTI ocupados, com pacientes da própria cidade (10), Santa Juliana (2), além de Campos Altos (1), Perdizes (1) e Coromandel (1). Já dos 22 leitos clínicos disponíveis no município, 14 estão ocupados, ou seja, uma taxa de 63%.
A prefeitura emitiu decreto para proibir a venda de bebidas alcoólicas nos próximos 15 dias, prazo considerado satisfatório para que o sistema de saúde possa respirar. Até o momento, 57 pessoas morreram de COVID-19 e mais de 5 mil contraíram a doença.
Segundo o município, as medidas tiveram de ser tomadas porque os bares, restaurantes, feiras livres e shopping permanecem lotados e têm ocorrido festas em ranchos e chácaras todos os finais de semana. Além disso, os estabelecimentos comerciais estão sem controle de temperatura, álcool em gel e limite de entrada de pessoas.
Patos de Minas é a cidade do Alto Paranaíba com o maior número de mortes e casos: 128 e 7.498, respectivamente. A prefeitura acatou recomendação da Secretaria de Estado de saúde e determinou o fechamento das atividades não-essenciais nos próximos 15 dias, com toque de recolher das 22h às 5h.
O prefeito de Monte Carmelo, Paulo Rocha (PSD), pediu à população que doe cilindros de oxigênio para os hospitais. “Gastamos 54 cilindros por dia, o consumo é além da capacidade. Se você tiver cilindro vazio, por favor, nos empreste para fornecer oxigênio para as pessoas que estão internadas”. Ele disse que a situação foi causada pela aglomeração em Caldas Novas, em Goiás, destino muito procurado pelos mineiros nas festas de fim de ano e no carnaval. A cidade registra 1.949 casos confirmados da doença, com 44 mortes.
Uberlândia, no Triângulo, terá mais 18 leitos de UTI até amanhã. O anúncio foi feito pelo Secretário de Estado de Saúde, Carlos Eduardo Amaral. Eles serão instalados no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia, um dos mais importantes no tratamento de COVID-19.
O prefeito Odelmo Leão (PP) prorrogou a lei seca na cidade e a restrição do funcionamento de atividades. O município já confirmou mais de 62 mil casos e 906 mortes – somente em 30 dias, foram 143 vidas perdidas.
Escalada
Com 315 óbitos e mais de 14.194 casos, Uberaba sente o avanço da pressão sobre o sistema de saúde. Boletim de ontem registrou a maior taxa de ocupação de leitos de UTI na rede pública desde o início da pandemia: 94%, contra os 62% do dia anterior.
A taxa de ocupação do leitos privados de enfermaria destinados à doença também está preocupante, ou seja, perto dos 80%. No mês passado, o município recebeu pacientes vindos de Manaus, que vive situação caótica por causa da falta de oxigênio.
Tudo on-line
Em Ituiutaba, os atendimentos presenciais foram suspensos em todas as repartições públicas. Aulas, cursos, palestras, treinamentos, entre outras atividades nas escolas da rede municipal estão suspensas.
Os eventos nos espaços públicos e competições esportivas também não terão aval do município do Pontal do Triângulo, que perdeu 142 pessoas e teve 5.677 casos, segunda a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais. Pela primeira vez, a ocupação de leitos chegou a 100%, tanto no Sistema Único de Saúde, quanto na rede suplementar.
Os 20 leitos de Araguari também tiveram lotação máxima. Nos últimos 30 dias, o município contabilizou 52 mortes – ontem o total chegou a 118, segundo o boletim da prefeitura e os casos somam 5.218.
A vice-prefeita, Maria Cecília Araújo, foi uma das que se recuperaram da doença, depois de ficar 20 dias internada.
Vacinas
Minas Gerais vai receber 10% dos 230,7 milhões de doses de vacinas antiCOVID-19 prometidas aos estados pelo ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. A projeção foi feita nesta quarta-feira (17/02), pelo governador Romeu Zema (Novo), em entrevista exclusiva ao Estado de Minas.
Se a estimativa for concretizada, a estratégia de imunização da população mineira receberá cerca de 23 milhões de injeções até julho.
*O Estado de Minas
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