Em nossa coluna, apresentamos aos nossos leitores, uma história que colhemos do livro “Prados, história e tradições” escrito por José Bonifácio Vale, o saudoso Zé Tatá. Filho de Oscar Rodrigues Teixeira Vale e Maria José da Silva Vale, nascido em 20 de março de 1904 tendo morrido em 21 de janeiro de 1988.
Como nos diz a também saudosa Dinah Alves Corgozinho:
“Morou, desde os nove anos de idade, na casa de número 16 da Praça Getúlio Silva.
Fazia um tipo um pouco excêntrico, sistemático, como dizíamos. Era desses pradenses “da gema”. Nunca saiu daqui e era bairrista ao extremo”.
Este é um dos muitos fatos apresentados no livro acima mencionado, que encontra-se em vias de ser publicado, realizando assim um sonho não realizado do nosso querido autor.
Neste episódio trazemos aos nossos leitores uma intrigante história da morte do Padre Inácio nos idos de 1820.
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No inverno de 1820, o Padre Inácio Corrêa Pamplona Corte Real afastava-se dos misteres sacerdotais. A conselho de seu médico assistente, a fim de cuidar de sua saúde, naquele tempo, bastante abalada.
Não obstante as revelações pouco animadores que o médico lhe fizera, sobre o desenvolvimento e fatal desenlace da moléstia que o vinha definhando dia a dia, esperava o Padre restabelecer-se o mais depressa possível, pois, para isto, muito confiava nas virtudes terapêuticas do clima de sua Fazenda, onde passaria a tratar-se de acordo com as prescrições médicas.
Esta vasta propriedade, conhecida por Fazenda do Capote, localizava-se na freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Prados e representava uma parte da herança que lhe coube por morte de seu progenitor, o mestre-de-campo Inácio Corrêa Pamplona, um dos lideres da Conjuração Mineira.
De fato, o Padre parecia estar com a razão, ao mostrar-se confiante nos ares benéficos de sua herdade; pois, melhorava com tanta rapidez, que muita gente acreditava tratar-se de um milagre; ele mesmo se achava tão bem disposto, que esperava dentro de poucos dias, voltar aos deveres sacerdotais.
Mas, neste mundo não é dado ao ser humano conhecer o que lhe reserva o Futuro. O que sucedeu ao Padre Inácio era bem exemplo disso. Embora muitos já o considerassem radicalmente curado, a quatro de agosto daquele ano, entretanto, chegava ao arraial a consternadora notícia de seu inesperado falecimento. Não houve quem não sentisse forte abalo com a inesperada e desagradável novidade.
Os sinos dobravam a finados, e toda a população aguardava a chegada do corpo do sacerdote. À tardinha, transladado da Fazenda do Capote, chegava ao arraial o cadáver do Padre, sendo logo depositado na Igreja do Rosário. Segundo uso da época, deveria alí permanecer sem velório até do dia seguinte.
Contam que certo indivíduo, residente no subúrbio Alto de Santana, naquela noite de quatro de agosto, tendo ficado no arraial até mais tarde, entretido talvez em alguma casa de jogos , quando regressava a sua residência, lembrou-se então de fazer ligeira prece por alma do Padre ali exposto.
Naquele momento, quem saísse do arraial para aquele subúrbio, teria forçosamente, que passar rente a uma das paredes dessa Igreja, no alinhamento da rua.
O homem ajoelhou-se calmamente na soleira da porta lateral, persignando-se em seguida. A noite já ia alta e o silêncio era completo.
Ao iniciar sua oração, entretanto, o pobre homem escutou e pôde muito bem identificar a voz do Padre que gritava, horrorizado: “ Barnabé!…Barnabé!… “ Em seguida, ouviu, aturdido, o barulho de alguma coisa pesada que se despenhava, com grande estardalhaço, no interior da Igreja.
Nada mais esperou, partindo numa carreira desabada. Mal transpôs os umbrais da porta de sua casa, caiu desmaiado. Aos gritos da esposa que o assistia, acudiram alguns vizinhos, que ali permaneceram solícitos, prestando-lhe os necessários auxílios, até voltar o amigo a seu estado normal. La pela madrugada, o pobre homem ainda um tanto aparvalhado, mas estando em seu perfeito juízo, e mostrando-se mais animado, vendo os primeiros clarões do dia filtrarem-se pelas frinchas das janelas, relatou aos circunstantes o que realmente presenciara junto a Igreja do Rosário quando de regresso a sua casa. Não obstante as provas inequívocas que apresentava de estar com as faculdades mentais bem equilibradas quando tudo aquilo aconteceu, nem por isso ninguém lhe deu crédito, atribuindo ter sido ele vítima de súbita perturbação dos sentidos.
Mais tarde, porém, ao abrirem as portas da Igreja, a fim de expor o corpo do Padre às derradeiras visitas dos paroquianos, verificaram, estarrecidos, que a urna mortuária caíra do cadafalso, e o cadáver encontrava-se em lugar bem diferente, encolhido a uma canto, conservando-se no rosto lívido e congelado pela morte, sua última impressão de pavor.
Havendo certamente sofrido um ataque de catalepsia, foi transportado como morto de sua Fazenda para o arraial. Depositado na Igreja do Rosário em essa muito alta, segundo o uso do tempo, ali volto a sí e, notando uma escuridão impenetrável a sua volta, estranhou o lugar em que se encontrava, logo chamando por Barnabé, seu escravo de maior confiança. Como este não lhe acudisse, tentou sair de onde estava, precipitando-se, então, com o ataúde, vindo a falecer não só de queda, mas também de tremendo susto que sofreu, quando percebeu o que realmente lhe acontecera.
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