Quando Eduardo, ainda com 9 anos, cruzava o interior de Minas na Aeroilis dirigida pelo pai, a intenção era ir pescar. Na hora de dormir, geralmente em camas improvisadas em descampados, em vez de fitar os rios, os olhos miravam o céu. Assim, o garoto se perdia na grandeza do universo. Já com 25 anos ele ganhou o primeiro telescópio. “Vi uma lua cheia e fiquei doido”, conta. Foi quando o garoto se encontrou.
Aos 57 anos, já advogado, Eduardo Pimentel, juntou-se a dois amigos, o professor de português João Ribeiro, 56, e o engenheiro civil e físico Cristóvão Jacques, 53, para desenvolver o observatório astronômico Southern Observatory for Near Earth AsteroidsResearch (Sonear), em Oliveira, na região Centro-Oeste de Minas.
Com menos de dois anos de existência, o observatório é responsável pela descoberta de quatro “cometas brasileiros” e reconhecido internacionalmente pelos feitos. Em funcionamento desde dezembro de 2013, é considerado um dos mais importantes do mundo na busca por asteroides e cometas que possam entrar em rota de colisão com a Terra. No Hemisfério Sul, o Sonear é o único a fazer esse tipo de patrulhamento.
A qualidade da pesquisa desenvolvida no trabalho realizado pelos três amigos levou o observatório mineiro a figurar entre os dez melhores do planeta, segundo lista divulgada pelo Minor Planet Center (MPC), órgão da União Astronômica Internacional (IAU), com sede nos Estados Unidos. “O Sonear colocou Oliveira no mapa do mundo”, afirma o presidente do Centro de Estudos Astronômicos de Minas Gerais (Ceamig), Marcelo Macedo.
O ritmo das descobertas dos astrônomos mineiros surpreende até eles mesmos. Os amigos contam que, apenas três semanas após Ribeiro e Jacques montarem o observatório – Eduardo foi agregado depois da estrutura já de pé –, o trio já obteve a primeira descoberta, o cometa batizado de C/2014 A4 Sonear, o primeiro “cometa brasileiro” – termo usado por ter sido visto pela primeira vez por brasileiros. Os outros três vieram logo em seguida.
Além dos quatro cometas, os mineiros também descobriram 16 asteroides. “Não imaginávamos que seria tão rápido. Foi um pouco de sorte e de trabalho. Quem procura acha”, diz Jacques, um apaixonado por astronomia desde os 14 anos, quando buscava novidades sobre o assunto em livros em inglês e em francês. “Com minha luneta, eu ficava olhando os planetas e observando a Lua”.
Estrutura. Para mapear objetos situados a cerca de 600 milhões de km – o trajeto entre o Sol e a terra é de 150 milhões de km –, os astrônomos contam com dois telescópios, que tiram 1.200 fotos do céu todas as noites. No dia seguinte, as imagens são enviadas para os computadores pessoais dos astrônomos mineiros, que fazem as análises.
Quando algum objeto se move de maneira diferente, é sinal de que ali pode haver uma possível descoberta. “Quando você é a primeira pessoa entre 7 bilhões a observar aquele objeto, se sente realmente um privilegiado”, comenta Jacques.
Feitos do Sonear
-14 de janeiro de 2014. Foi descoberto o cometa C/2014 A4 Sonear, com cerca de 20 km de diâmetro.
-14 de março de 2014. Primeira vez em que foi visto o cometa C/2014 E2 Jacques.
-28 de março de 2015. O cometa C/2015 F4 Jacques, com pequena cauda, foi reconhecido.
-24 de agosto de 2015. Os astrônomos descobrem o P/2015 Q2 Pimentel, que tem uma órbita periódica, ou seja, passa perto do Sol em intervalos constantes, algo parecido com o cometa Halley.
Fonte: O Tempo
Publicado em 16/10/2015 às 16:13
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