Em Minas Gerais, o Cruzeiro foi o primeiro, mas não o único a se transformar em clube-empresa, depois de ser comprado por Ronaldo Fenômeno por R$ 400 milhões. Há no interior do Estado um pequeno time com pensamentos ambiciosos, o Athletic Club. A equipe, que disputa a primeira divisão do Campeonato Mineiro, também se tornou Sociedade Anônima do Futebol (SAF) ao ser adquirida pela empresa V2 Participações e tem como espelho a trajetória da Chapecoense para chegar à elite do futebol nacional.
Por meio da V2 Participações, os empresários Vinícius Diniz e Victor Felipe Oliveira adquiriram 49% de participação no controle do Athletic, que esteve em evidência no início do ano pela contratação do uruguaio Loco Abreu. Os investidores consideram a modesta agremiação de São João del Rei uma joia rara porque é organizada, não tem dívida e faz um trabalho relevante nas categorias de base. Com 49% das ações, os empresários não têm o controle definitivo das ações do clube. No caso do Cruzeiro, Ronaldo adquiriu 90%.
“Achamos que um time com menos rodagem no futebol profissional traz uma vantagem. Um time grande geralmente possui um passivo muito grande e, obviamente, valores mais altos para ser adquirido. Pensamos num clube em que é possível melhorar a governança, a gestão e a parte administrativa. Com isso, ele vai chegar aonde a gente quer”, explica ao Estadão Vinícius Diniz, um dos sócios gestores. Diniz, de 44 anos, é empresário do ramo de construção civil. “Vamos fazer do Athletic a quarta ou quinta força de Minas para depois aparecer no cenário nacional”, promete.
A Sociedade Anônima de Futebol foi protocolada pelo Athletic no mês passado e aprovada nesta semana. Desde antes de agosto, quando foi sancionada a lei do clube-empresa no Brasil, o time mineiro mantinha conversas com empresários. Com a aprovação do conselho do clube para que se tornasse SAF, o caminho ficou aberto para que passasse a ser administrado pelos sócios nos moldes de uma empresa.
Diniz faz projeções ousadas para o Athletic. A ideia é que a equipe faça uma boa campanha no Campeonato Mineiro em 2022, consiga vaga para a Série D do Campeonato Brasileiro e Copa do Brasil e, depois disso, com um investimento considerável no elenco, galgue divisões em um rota semelhante à traçada pela Chapecoense, que levou cinco anos – de 2009 a 2013 – para sair da quarta divisão até chegar à elite do futebol brasileiro – o time catarinense foi rebaixado para a Série B nesta temporada.
“A cidade é pujante, apaixonada pelo time e o clube é centenário. Temos tudo para seguir um caminho semelhante ao da Chapecoense”, entende Diniz, comparando a mineira São João del Rei com a catarinense Chapecó. Fundado em 1909, o clube ficou adormecido até 2018, quando retomou suas atividades profissionais no futebol.
O Athletic disputará em 2022 a primeira divisão do Mineiro pela segunda vez seguida e não quer fazer feio. Por isso, trouxe jogadores conhecidos, como o meia Danilinho, que defendeu no passado o Atlético-MG, e apostou em um técnico jovem, o ex-atacante Roger, atleta com passagens por Botafogo, Corinthians, São Paulo, Ponte Preta, Fluminense e Palmeiras e vive a expectativa de iniciar a sua primeira experiência como treinador.
Com a SAF implementada, o Athletic crê que os investimentos serão maiores e a governança, mais rígida e transparente. “Temos uma expectativa muito grande de que esse novo modelo profissionalize ainda mais o departamento de futebol e a SAF é o caminho certo para que isso ocorra na gestão do Athletic. Tenho certeza de que escolhemos um bom caminho, que vai dar muitos frutos para nosso time e nosso torcedor”, afirma o presidente do clube, Leandro Bini.
Os novos donos do “Esquadrão de Aço”, como é conhecido, vão investir ao menos R$ 50 milhões em dez anos. A folha salarial, na casa de R$ 300 mil por mês, poderá alcançar o dobro desse valor. E haverá um aporte de cerca de R$ 12 milhões destinado à construção de um centro de treinamento, cujo projeto é do arquiteto Bernardo Farkasvölgyi, responsável também pelo novo estádio do Atlético-MG, a Arena MRV, com previsão de inauguração para o primeiro semestre de 2023. Além disso, há como prioridade a modernização do Estádio Joaquim Portugal.
“Vamos dar uma encorpada no estádio para melhorar o conforto e a experiência do torcedor, com camarotes, estrutura de fan fests, para que o jogo não seja só a bola rolando. Dá para extrair mais desse negócio. Vamos parar a cidade”, projeta Diniz, animado com os rumos que pode tomar o time.
“Vamos fazer várias ações para fazer do futebol mais do que ele é, não só levar o torcedor ao campo. É possível atrair mais recursos”, acrescenta o empresário. No pensamento do executivo, é viável ampliar a arrecadação com bilheteria, programa de sócio-torcedor, venda de camisas e ações de marketing, além de captar patrocínios mais robustos. Antes disso, é necessário obter sucesso em campo, no Estadual, para passar a ter um calendário o ano inteiro. “Somos fortes dentro de casa e esperamos ganhar os seis jogos como mandantes no Mineiro”, prevê um dos novos donos do clube.
*Reprodução: Estadão
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