Detalhe da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, em Prados, datada de meados do século XVIII. Foto de Outubro/2018.
Teve início ontem, domingo, a Semana Santa do presente ano em Prados. Apesar das solenidades realizadas desde o sexto dia do mês, com o Setenário das Dores, que por sinal foi maravilhoso, o Domingo de Ramos é um marco bastante presente, forte e fiel de uma das épocas mais bonitas e tradicionais da região.
Quando alguém demonstra seu interesse em conhecer e visitar não só terras pradenses, mas a região do Campo das Vertentes, não é sem motivo que sempre recomendo vir entre os meses de Abril a Julho/Agosto. Poderia falar das tradicionais celebrações que acontecem em São João, Tiradentes, ou Prados (e outras cidades), que são muitas e cada uma com sua beleza e profundidade únicas, mas hoje quero aqui ressaltar o fato de como as cidades, especialmente a última mencionada, muda seu caráter durante épocas como essa.
Ao falar de religiosidade, cultura e arte em Prados, falamos de marcos como Semana Santa, Corpus Christi e Festival de Música, época que tem início em meados de março, abril e se encerra nos primeiros dias de agosto. O metabolismo da cidade muda não apenas pela troca de estações ou pela temperatura mais baixa em relação ao verão (apesar de estarmos ainda em um clima tropical, comparado aos locais vizinhos e posição geográfica é consideravelmente mais frio), mas também pelo sentimento solene que é compartilhado entre os pradenses com o início da quaresma. O toque dos sinos já anuncia um momento de reflexão e compaixão, que com o passar das semanas se une às noites cada vez mais precoces, adensando o cenário colonial que outrora foi palco da inconfidência mineira e passagem de ouro e povos escravizados.
É notória a diferença do silêncio entre os ensolarados dias de verão e os tranquilos, calmos e aconchegantes fins de tarde de outono, especialmente quando se acompanha as celebrações da Semana Santa diariamente. Após as procissões, a cidade se enche de vida com toda a movimentação que é estranha aos dias comuns e ao resto do ano. Apesar da pequena quantidade de habitantes, o município possui uma grande extensão territorial, fazendo com que existam distritos e muitos moradores localizados longe da região central. Durante essa semana essas pessoas se fazem presentes, bem como os filhos da terra que por diversos motivos estão ausentes. A cidade ganha vida, e uma vida atuante.
Independente das crenças pessoais de cada um, temos na região uma das mais arraigadas e tradicionais formas de funcionamento da Igreja Católica no Brasil, que mesmo sofrendo alterações e se adequando aos novos tempos, mantém e respeita muitas antigas tradições, o que as torna mais interessantes ainda e faz valer a vinda. Musicalmente falando, através da orquestra e banda da Lira Ceciliana, temos a música do barroco mineiro e época colonial brasileira, feita aqui e tocada aqui, com nomes como Manoel Dias de Oliveira, passando pelo Padre José Maria Xavier e chegando a Adhemar Campos Filho.
Quando me faço presente nos grandes centros, como minha última viagem a trabalho alguns dias atrás – São Paulo, reflito bastante sobre os dilemas e tensões do modo de vida interiorano em relação aos de grandes capitais. Gosto de usar o termo metabolismo para me referir a assuntos como esse, afinal as cidades são verdadeiros organismos pulsantes. Nascer, crescer e viver em uma grande centro ou pequeno local influencia em realmente tudo que vivemos, o quê e como pensamos, nossos desejos e projeções, modo de andar, falar, olhar, escutar e agir. Apesar de óbvio se faz necessário lembrar, afinal quando acostumamos demasiadamente com apenas um lugar infelizmente existe uma tendência a esquecer os demais, e acredito que as reflexões e tensões oriundas dessas diferenças nos faz crescer imensamente.
Conhecer Prados durante a Semana Santa é conhecer um pequeno lugar de Minas Gerais com uma grande carga de emoção, significados, história e receptividade. Uma das mais tradicionais manifestações religiosas do nosso estado e possivelmente do país.
Mais interessante e engrandecedor que visitar um local é vivência-lo, e só assim podemos ter uma experiência completa no lugar. Mais interessante que conhecer as pessoas, é aprender com as mesmas, pois sempre temos algo a dizer, e algo interessante e relevante, estando em cidade pequena ou grande.
Octávio Deluchi
Igreja de Nossa Senhora da Conceição, em Prados, datada do século XVIII. Foto de Outubro/2018.
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